sábado, 24 de fevereiro de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: LEGADO AOS NOSSOS FILHOS - LYA LUFT - COM GABARITO

Artigo de Opinião: Legado aos nossos filhos
                                  Lya Luft

    Uma importante empresa financeira me chamou para falar com alguns clientes. Não sobre finanças, pois eu os arruinaria, mas sobre algum tema "humano" – no meio da crise queriam mudar de assunto. Uma sugestão de tema que me deram foi: "O que esperamos de nossos filhos no futuro". Como acredito que pensar é transgredir, falei sobre "o que estamos deixando para nossos filhos". Acabamos nos dando muito bem, a excelente plateia estava cheia de dúvidas, como a palestrante.
        O mundo avança em vertiginosas transformações, e não é só nas finanças ou economia mundiais: ele se transforma a todo momento em nossos usos e costumes, na vida, no trabalho, nos governos, na família, nos modelos que nos são apresentados, em nossa capacidade de fazer descobertas, no progresso e na decadência.
        O que nos enche de perplexidade, quando o assunto é filhos, é a parte de tudo isso que não conseguimos controlar, que é maior do que a outra. Se há 100 anos a vida era mais previsível – o pai mandava e o resto da família obedecia, o professor e o médico tinham autoridade absoluta, os governantes eram nossos heróis e havia trilhas fixas a ser seguidas ou seríamos considerados desviados –, hoje ser diferente pode dar status.
        Gosto de pensar na perplexidade quanto ao legado que podemos deixar no que depende de nós. Que não é nem aquele legado alardeado por nossos pais – a educação e o preparo – nem é o valor em dinheiro ou bens, que se evaporam ao primeiro vendaval nas finanças ou na política. A mim me interessam outros bens, outros valores, os valores morais. O termo "morais" faz arquear sobrancelhas, cheira a religiosidade ou a moralismo, a preconceito de fariseu. Mas não é disso que falo: moralidade não é moralismo, e moral todos temos de ter. A gente gosta de dizer que está dando valores aos filhos. Pergunto: que valores? Morais, ora, decência, ética, trabalho, justiça social, por exemplo. É ótimo passar aos filhos o senso de alguma justiça social, mas então a gente indaga: você paga a sua empregada o mínimo que a lei exige ou o máximo que você pode? Penso que a maioria de nós responderia não à segunda parte da pergunta. Então, acaba já toda a conversa sobre justiça social, pois tudo ainda começa em casa e bem antes da escola.
        Não adianta falar em ética, se vasculho bolsos e gavetas de meus filhos, se escuto atrás da porta ou na extensão do telefone – a não ser que a ameaça das drogas justifique essa atitude. Não adianta falar de justiça, se trato miseravelmente meus funcionários. Não se pode falar em decência, se pulamos a cerca deslavadamente, quem sabe até nos fanfarronando diante dos filhos homens: ah, o velho aqui ainda pode! Nem se deve pensar em respeito, se desrespeitamos quem nos rodeia, e isso vai dos empregados ao parceiro ou parceira, passando pelos filhos, é claro. Se sou tirana, egoísta, bruta; se sou tola, fútil, metida a gatinha gostosa; se vivo acima das minhas possibilidades e ensino isso aos meus filhos, o efeito sobre a moral deles e sua visão da vida vai ser um desastre.
        Temos então de ser modelos? Suprema chatice. Não, não temos de ser modelos: nós somos aquele primeiro modelo que crianças recebem e assimilam, e isso passa pelo ar, pelos poros, pelas palavras, silêncios e posturas. Gosto da historinha verdadeira de quando, esperando alguém no aeroporto, vi a meu lado uma jovem mãe com sua filhinha de uns 5 anos, lindas e alegres. De repente, olhando para as pessoas que chegavam atrás dos grandes vidros, a perfumada mãe disse à pequena: "Olha ali o boca-aberta do seu pai".
        Nessa frase, que ela jamais imaginaria repetida num artigo de revista ou em palestras pelo país, a moça definia seu ambiente familiar. Assim se definem ambientes na escola, no trabalho, nos governos, no mundo. Em casa, para começar. O palavrório sobre o que legaremos aos nossos filhos será vazio, se nossas atitudes forem egoístas, burras, grosseiras ou maliciosas. O resto é conversa fiada para a qual, neste tempo de graves assuntos, não temos tempo.
  
LUFT, Lya. Legado aos nossos filhos. Veja,
São Paulo, n. 2082, p. 24, 15 out. 2008.

Entendendo o texto:

01 – Com base na leitura, é CORRETO afirmar que a autora:
A) foi convidada a falar sobre tema relativo à área de atuação da empresa.
B) fugiu ao tema sugerido com receio de causar problemas aos clientes da empresa.
C) esclareceu plenamente as dúvidas da plateia que assistiu à palestra.
D) alterou o tema sugerido visando a ajustá-lo ao enfoque pessoal que pretendia dar.

02 – Sobre as vertiginosas transformações referidas pela autora no, é CORRETO afirmar que, segundo o texto, elas:
A) decorrem do modelo econômico que vem sendo adotado.
B) levam inevitavelmente a um mundo melhor e mais harmônico.
C) se processam tanto no âmbito individual e familiar como no social e coletivo.
D) se devem à ambição desmedida e egoísta do homem na busca do conforto pessoal.


03 – Com base no texto, considere as afirmativas abaixo:
         I – A vida há 100 anos era mais previsível e mais fácil de ser controlada do que a atual.
         II – No mundo atual, a sociedade pode assumir uma posição favorável com relação aos que se desviam da norma.
         III – A relação entre pais e filhos não é tão boa como antes, o que
         deixa perplexos os pais. Está CORRETO o que se afirma em:
A) I e II apenas.
B) I e III, apenas.
C) II e III, apenas.
D) I, II e III.


04 – “A mim me interessam outros bens, outros valores, os valores morais.” Assinale a alternativa que NÃO apresenta um desses valores morais referidos pela autora:
 A) Preparo intelectual.
 B) Justiça social.
 C) Decência.
D) Trabalho.

05 – Com base na leitura, é CORRETO afirmar que o comportamento dos pais:
 A) se coaduna com o que falam aos filhos.
 B) contradiz o que falam aos filhos.
 C) ratifica o que falam aos filhos.
 D) consolida o que falam aos filhos.


 06 – “Temos então de ser modelos? Suprema chatice. Não, não temos de ser modelos: nós somos aquele primeiro modelo que crianças recebem e assimilam [...].” A passagem acima revela que os pais:
 A) podem delegar para outros agentes a enfadonha tarefa de educar os filhos.
 B) devem conversar muito com os filhos para lhes servir de modelo.
 C) constituem necessariamente o modelo inicial que forja os caracteres dos filhos.
 D) precisam de uma educação formal específica que os habilite a educar os filhos.

07 – Com base na leitura do texto, é CORRETO afirmar que a linguagem que de fato determina o legado a ser passado aos nossos filhos é a linguagem:
 A) das ações, respaldadas por valores morais.
 B) das palavras, consubstanciadas em lições morais.
 C) dos ensinamentos religiosos, reiterados nas pregações morais.
 D) das políticas públicas, apoiadas em princípios morais.

08 – “Como acredito que pensar é transgredir, falei sobre "o que estamos deixando para nossos filhos". Acabamos nos dando muito bem, a excelente plateia estava cheia de dúvidas, como a palestrante.” Na passagem acima, o conectivo como pode ser substituído, sem que haja alteração substancial de sentido, respectivamente por:
A) Já que / em conformidade com.
B) Visto que / tal qual.
C) Quanto mais / do mesmo modo que.
D) Uma vez que / segundo.

 09 – “[...] havia trilhas fixas a ser seguidas [...].” Das alterações processadas na passagem acima, assinale aquela que CONTRARIA a norma padrão da língua, no que se refere à concordância verbal:
 A) Deveriam existir trilhas fixas a ser seguidas.
 B) Parece que sempre houveram trilhas fixas a ser seguidas.
 C) Creio que ainda vão faltar trilhas fixas a ser seguidas.
 D) Espero que possam aparecer trilhas fixas a ser seguidas.

CRÔNICA: A REGREÇÃO DA REDASSÃO - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

CRÔNICA: A REGREÇÃO DA REDASSÃO
                      Carlos Eduardo Novaes

   Semana passada recebi um telefonema de uma senhora que me deixou surpreso. Pedia encarecidamente que ensinasse seu filho a escrever.
    – Mas, minha senhora – desculpei-me -, eu não sou professor.
  – Eu sei. Por isso mesmo. Os professores não têm conseguido muito.
        – A culpa não é deles. A falha é do ensino.
        – Pode ser, mas gostaria que o senhor ensinasse o menino. O senhor escreve muito bem.
        – Obrigado – agradeci -, mas não acredite muito nisso. Não coloco as vírgulas e nunca sei onde botar os acentos. A senhora precisa ver o trabalho que dou ao revisor.
        – Não faz mal – insistiu -, o senhor vem e traz um revisor.
        – Não dá, minha senhora – tornei a me desculpar -, eu não tenho o menor jeito com crianças.
        – E quem falou em crianças? Meu filho tem 17 anos.
        Comentei o fato com um professor, meu amigo, que me respondeu: “Você não deve se assustar, o estudante brasileiro não sabe escrever”. No dia seguinte, ouvi de outro educador: ‘O estudante brasileiro não sabe escrever’. Depois li no jornal as declarações de um diretor da faculdade: ‘O estudante brasileiro escreve muito mal’. Impressionado, saí a procura de outros educadores. Todos me disseram: acredite, o estudante brasileiro não sabe escrever. Passei a observar e notei que já não se escreve mais como antigamente. Ninguém mais faz diário, ninguém escreve em portas de banheiros, em muros, em paredes.
        Não tenho visto nem aquelas inscrições, geralmente acompanhadas de um coração, feitas em casca de árvore. Bem, é verdade que não tenho visto nem árvore.
        – Quer dizer – disse a um amigo enquanto íamos pela rua – que o estudante brasileiro não sabe escrever? Isto é ótimo para mim. Pelo menos diminui a concorrência e me garante emprego por mais dez anos.
        – Engano seu – disse ele. – A continuar assim, dentro de cinco anos você terá que mudar de profissão.
        – Por quê? – espantei-me. – Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance eu tenho de sobreviver.
        – E você sabe por que essa geração não sabe escrever?
        – Sei lá – dei com os ombros -, vai ver que é porque não pega direito no lápis.
        – Não senhor. Não sabe escrever porque está perdendo o hábito da leitura. E quando o perder completamente, você vai escrever para quem?
        Taí um dado novo que eu não havia considerado. Imediatamente pensei quais as utilidades que teria um jornal no futuro: embrulhar carne? Então vou trabalhar num açougue. Serviria para fazer barquinhos, para fazer fogueira nas arquibancadas do Maracanã, para forrar sapato furado ou para quebrar um galho em banheiro de estrada? Imaginei-me com uns textos na mão, correndo pelas ruas para oferecer às pessoas, assim como quem oferece hoje bilhete de loteria:
        – Por favor amigo, leia – disse, puxando um cidadão pelo paletó.
        – Não, obrigado. Não estou interessado. Nos últimos cinco anos a única coisa que leio é a bula de remédio.
        – E a senhorita não quer ler? – perguntei, acompanhando os passos de uma universitária. – A senhorita vai gostar. É um texto muito curioso.
        – O senhor só tem escrito? Então não quero. Por que o senhor não grava o texto? Fica mais fácil ouvi-lo no meu gravador.
        – E o senhor, não está interessado nuns textos?
        – É sobre o quê? Ensina como ganhar dinheiro?
        – E o senhor, vai? Leva três e paga um.
        – Deixa eu ver o tamanho – pediu ele.
        Assustou-se com o tamanho do texto:
        – O quê? Tudo isso? O senhor está pensando que sou vagabundo? Que tenho tempo para ler tudo isso? Não dá para resumir tudo em cinco linhas?
Carlos Eduardo Novaes.

Entendendo o texto:
Com base no texto, responda ao que se pede:
01 – No diálogo entre a mãe e o autor do texto, percebe-se uma crítica velada a respeito dos professores no Brasil. Identifique a crítica.
           A mãe procurou uma pessoa que não era professor porque os professores de seu filho não conseguiam ensiná-lo a escrever, o que foi justificado pelo autor que não era culpa deles (dos professores), mas por causa da falha do ensino. Ora, se o ensino é falho (tem defeitos) e é realizado por professores, então a culpa é daquele que provoca essa falha, isto é, dos professores. O ensino em si não é autônomo, mas é o resultado da ação de alguém.

02-O texto apresenta a causa porque os estudantes brasileiros não sabem escrever. Qual é?
      Porque não leem.
03-Se os estudantes brasileiros, segundo o autor, não sabem escrever porque não leem, qual deve ser a estratégia que os professores devem utilizar para reverter essa situação?
      Resposta pessoal do aluno.
     04 – Que outras causas podem contribuir para que o estudante brasileiro tenha dificuldades para escrever?
           Resposta pessoal do aluno.
     05 – Por que o autor utilizou a grafia errada nas palavras do título do texto?
            Porque naturalmente ele quis chamar a atenção do leitor para o assunto do seu texto: a dificuldade dos estudantes brasileiros de escrever em português.
    
     06 – O autor se valeu dos fonemas e suas representações gráficas, em português, para chamar a atenção do leitor. Algumas palavras, em português, podem ter o seu sentido alterado (ou não) em razão da sua representação gráfica. No caso do título do texto, houve alteração de sentido? Justifique.
      Não. Se forem pronunciadas, essas mesmas palavras terão o mesmo som: regressão/regreção – redação/redassão. 



REPORTAGEM: PROFETAS DO SERTÃO MIRAM HORIZONTES PARA FAREJAR CHUVA - FLÁVIA MARREIRO - COM GABARITO

REPORTAGEM:

PROFETAS DO SERTÃO MIRAM HORIZONTES PARA FAREJAR CHUVA


 Encontro no Ceará reúne “meteorologistas naturais”
       “E aí, seu Chico Leiteiro, chove?”. Do alto da árvore. Francisco dos Santos mostrou: “Cupim com asa, sinal de chuva”.
  Era domingo sem nuvens – “descascado” –, pouco mais do meio-dia, e Chico Leiteiro (o apelido vem da ordenha e distribuição de leite que faz), 66, alcançara com agilidade o cupinzeiro, um dos elementos que usa para prever o “inverno” (a época das chuvas) na região de Quixadá, das mais secas do Ceará.
        No dia anterior, sábado, último dia 10, mesma roupa, chinelos e meio-sorriso, apesar de menos à vontade por falar ao microfone para quase cem pessoas, ele apresentou a previsão no encontro de Profetas Populares: a reunião que une em janeiro, desde 1996, meteorologistas profissionais e amadores, geógrafos e, em média, 20 “profetas da chuva” da região no auditório da associação de lojistas da cidade.
        Os “profetas”, convidados pelos organizadores entre os reconhecimentos por saber se vai ser ano de fartura ou seca, vieram, na edição de 2004, de quatro cidades: Quixadá, Banabuiú, Ibaretama e Camocim.
        Na plateia alguns agricultores, secretários municipais gente da cidade e uma dúzia de repórteres de jornais da TV e de rádios.
        Ao lado dos cupins de Leiteiro, as observações do horizonte, do comportamento dos animais e das pedras de sal ao ar livre (ver “experiências” em quadro) – métodos passados de pai para filho ou desenvolvidos ao longo do tempo –, sem contar predições em sonhos e visões.
        [...] As rádios da região e até os jornais, [...], acabam, ao final dos encontros, reproduzindo uma espécie de placar (ou a “profecia mais frequente”). O de 2004 ficou assim: 18 previsões para boas chuvas, contra 02 para tempo “desmantelado” (sem regra).
        [...]
        Foi em Quixeramobim, cidade da qual Quixadá se desmembrou, que nasceu Antônio Conselheiro (1830-1897), o profeta mais famoso do Nordeste.
        [...]
        Nesse cenário, a repercussão e a força dos “profetas” chegam a ser mais que curiosas. “Pela necessidade, na primeira chuva, o pequeno agricultor planta. Ele precisa comer. Se a previsão tiver sido ruim, ele reza para que ela esteja errada”, diz o meteorologista da Funceme, Namir Mello.
        As “experiências” dos profetas ainda não foram confirmadas cientificamente. Mas há indicativos, dizem os meteorologistas, de que o comportamento de animais pode sim, ajudar na previsão.
        [...].
                                            
Flávia Marreiro. Folha de São Paulo. 18 jan. 2004.

Entendendo o texto:
01 – Imagine que você é um dos agricultores presentes ao encontro e, ao ouvir as previsões dos profetas, fosse anotando os resultados num pedaço de papel, para poder lembrar depois.
      Resposta pessoal. Espera-se que sejam anotações rápidas e truncadas, contendo somente a informação relevante a ser lembrada.

    02 – Ainda como agricultor, você precisa mandar um bilhete urgente para casa, contando para os familiares as previsões do ano, explicando a situação.
      Resposta pessoal. Espera-se, no entanto, que seja um bilhete informal para uma audiência conhecida, que entre outros assuntos comunique sobre as profecias mais frequentes.

     03 – Imagine agora que a Fundação Cearense de Meteorologia esteja fazendo um levantamento dos agricultores interessados em receber informações diariamente, via rádio comunitária, sobre o tempo no sertão. Crie um formulário que poderia ser utilizado nessa situação.
      Espera-se que você siga modelos existentes de formulários, contendo dados pessoais; profissão; se lavrador, quais produtos planta. Se criador, quais animais cria. Em quais épocas acha mais importante receber informações meteorológicas. Espaço para observações.

    04 – Se você fosse um repórter e resolvesse enviar um cartão postal para uma amiga? Qual seria o texto?
      Porém, o texto teria que ter informações sobre o que anda fazendo além do trabalho, por exemplo, para se divertir e descansar.

     05 – Escreva um outro cartão, porém, desta vez, para o seu chefe.
      Porém pensa-se que se deveria comentar sobre aspectos da viagem, das acomodações, do trabalho na reunião e a preparação da reportagem.

     06 – Imagine que você precisará ficar mais alguns dias para completar a pesquisa. Escreva um breve relato sobre o desenvolvimento de seu trabalho na reunião, pedindo para estender sua estadia. A correspondência poderia ser enviada por fax, carta ou e-mail.
      O texto deveria seguir uma descrição das atividades desenvolvidas a fim de escrever a matéria. Importante notar que tipo de suporte estará usando para enviar o relatório com a requisição.

     07 – Desde o primeiro dia em que chegou à cidade, você estaria reclamando no hotel de que o ar refrigerado não estava funcionando bem. Os funcionários informaram que o gerente estaria viajando mas que chegaria de madrugada. Pediram então que você escrevesse uma carta explicando o defeito para que ele tome as providências necessárias.
      Espera-se, no entanto, que a queixa seja mais formal e se atenha a relatar o acontecimento, pedindo que providências sejam tomadas.

    08 – No texto final, imagine que você é um parente de um colega do jornalista de São Paulo e seu parente ligou pedindo que você acompanhasse o colega numa visita às belezas da região. Você não encontrou o jornalista no hotel e resolveu deixar um recado com seu contato.
      Mas como as pessoas em questão não se conhecem, seria esperado que você se apresentasse fizesse o convite talvez mencionando que é a região onde Antônio Conselheiro nasceu e deixando os contatos para que o jornalista marque o passeio.



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

PROPAGANDA/CONTO: O CHAPEUZINHO VERMELHO - CHARLES PERRAULT - COM GABARITO


Fonte da imagem - https://www.blogger.com/blog/post/edit/7220443075447643666/4706007018374851054#
PROPAGANDA
Você pode ser o que quiser.

A história sempre se repete.
Todo Chapeuzinho Vermelho
Que se preze, um belo dia,
Coloca o Lobo Mau na coleira.
                    


CONTO: O CHAPEUZINHO VERMELHO

Fonte da imagem - https://www.blogger.com/blog/post/edit/7220443075447643666/4706007018374851054#

        Havia, numa cidadezinha, uma menina que todos achavam muito bonita. A mãe era doida por ela e a avó ainda mais. Por isso, a avó mandou fazer um pequeno capuz vermelho que ficava muito bem na menina. Por causa dele, ela ficou sendo chamada em toda parte de Chapeuzinho Vermelho.
        Um dia em que sua mãe tinha preparado umas tortas, disse para ela:
        --- Vai ver como está passando sua avó. Pois eu soube que ela anda doente. Leva uma torta e este potezinho de manteiga.
        Chapeuzinho Vermelho saiu em seguida para ir visitar sua avó, que morava em outra cidadezinha.
        Quando atravessava o bosque, ela encontrou compadre Lobo, que logo teve vontade de comer a menina. Mas não teve coragem por causa de uns lenhadores que estavam na floresta.
        O lobo perguntou aonde ela ia. A pobrezinha, que não sabia como é perigoso parar para escutar um lobo, disse para ele:
        --- Eu vou ver minha avó e levar para ela uma torta e um potezinho de manteiga que minha mãe está mandando.
        --- Ela mora muito longe? --- perguntou o Lobo.
        --- Oh! Sim --- respondeu Chapeuzinho Vermelho. --- É pra lá daquele moinho que você está vendo bem lá embaixo. É a primeira casa a cidadezinha.
        --- Pois bem --- disse o Lobo ---, eu também quero ir ver sua avó. Eu vou por este caminho daqui e você vai por aquele de lá. Vamos ver quem chega primeiro.
        O Lobo pôs-se a correr com toda a sua força pelo caminho mais curto. A menina foi pelo caminho mais longo, distraindo-se a colher avelãs, correndo atrás de borboletas e fazendo ramalhetes com as florzinhas que encontrava.
        O Lobo não levou muito tempo para chegar à casa da avó. Bateu na porta: toc, toc.
         --- Quem está aí?
        --- É sua neta, Chapeuzinho Vermelho --- disse o Lobo, mudando a voz. --- Eu lhe trago uma torta e um potezinho de manteiga que minha mãe mandou pra você.
        A bondosa avó, que estava de cama porque não passava muito bem, gritou:
        --- Puxe a tranca que o ferrolho cairá.
        O Lobo puxou a tranca e a porta se abriu. Ele avançou sobre a pobre mulher e devorou-a num instante, pois fazia mais de três dias que não comia. Em seguida, fechou a porta e foi-se deitar na cama da avó. Ficou esperando Chapeuzinho Vermelho, que, um pouco depois, bateu na porta: toc, toc.
        --- É sua neta, Chapeuzinho Vermelho, que traz uma torta pra você e um potezinho de manteiga que minha mãe lhe mandou.
        O Lobo gritou para ela, adocicando um pouco a voz:
        --- Puxe a tranca que o ferrolho cairá.
        Chapeuzinho Vermelho puxou a tranca e a porta se abriu.
        O Lobo, vendo que ela tinha entrado, escondeu-se na cama, debaixo da coberta, e falou:
        --- Ponha a torta e o potezinho de manteiga sobre a caixa de pão e venha se deitar comigo.
        Chapeuzinho Vermelho tirou o vestido e foi para a cama, ficando espantada de ver como sua avó estava diferente ao natural. Disse para ela:
        --- Minha avó, como você tem braços grandes!
        --- É pra te abraçar melhor, minha filha.
        --- Minha avó, como você tem pernas grandes!
        --- É pra correr melhor, minha menina.
        --- Minha avó, como você tem orelhas grandes?
        --- É pra escutar melhor, minha menina.
        --- Minha avó, como você tem olhos grandes!
        --- É pra ver melhor, minha menina.
        --- Minha avó, como você tem dentes grandes!
        --- É pra te comer.
        E, dizendo estas palavras, o Lobo saltou para cima de Chapeuzinho Vermelho e a devorou.

        MORAL
        Vimos que os jovens,
        Principalmente as moças,
        Lindas, elegantes e educadas,
        Fazem muito mal em escutar
        Qualquer tipo de gente.
        Assim, não será de estranhar
        Que, por isso, o Lobo as devore.
        Eu digo o Lobo porque todos os lobos
        Não são do mesmo tipo.
        Existe um que é manhoso,
        Macio, sem fel, sem furor.
        Fazendo-se de íntimo, gentil e adulador,
        Persegue as jovens moças
        Até em suas casas e seus aposentos.
        Atenção, porém!
        As que não sabem
        Que esses lobos melosos
        De todos eles são os mais perigosos.

                                      Charles Perrault. O Chapeuzinho Vermelho.
                                                               Porto Alegre: Kuarup, 1987.

01 – Anote o que você vê na propaganda (texto 1), conforme o que se pede a seguir.
     a) Quais são os elementos visuais que a compõem?
      Em destaque aparece uma moça de aspecto sedutor. O fundo atrás é azul celeste. No canto superior direito aparece a frase: “Você pode ser o que quiser”. Abaixo da frase, há um texto verbal.

     b) Qual é a cor que se destaca na propaganda? No que ela foi usada? O que sugere?
      A cor em destaque é a vermelha, usada na capa com capuz em tecido brilhante, semelhante à seda ou cetim. Sugere sedução.

     c) Que estratégias são usadas na propaganda para provocar sensações no leitor?
      O tecido acetinado brilhante e vermelho e o batom usado pela mulher. Ao mesmo tempo que sugerem sensualidade, imprimem um ar de mistério ao personagem, o que também contribui para criar a ideia de sedução.

     d) Descreva à expressão facial da mulher e o que ela sugere.
      A mulher não sorri e olha diretamente o observador, o que pode sugerir a determinação de quem sabe o que quer; os lábios são carnudos, vermelhos e aparecem semiabertos, sugerindo sensualidade. O texto verbal, que diz que toda Chapeuzinho Vermelho coloca o Lobo mau na coleira, pode confirmar essa ideia.

     e) Que ligação pode ser estabelecida entre o texto verbal e o texto visual da propaganda?
      Educador, se necessário, reveja com os alunos o conceito de texto verbal e texto visual.
A imagem da mulher, com todas as características que já foram descritas nas questões anteriores, busca representar o personagem Chapeuzinho Vermelho mencionada no texto verbal. Os alunos poderão estabelecer outras relações.

02 – Quais elementos da propaganda foram emprestados do conto. O Chapeuzinho Vermelho?
       Os personagens principais do conto (Chapeuzinho Vermelho e Lobo), as cores usadas na roupa do personagem, elementos visuais e verbais relacionados à sedução.

03 – Uma característica desse conto maravilhoso de Charles Perrault é a conter uma moral no seu final. Releia a moral do conto O Chapeuzinho Vermelho e responda às questões.
     a) O que você compreendeu sobre a moral do conto maravilhoso?
      Espera-se que o aluno mencione as artimanhas usadas pelo sedutor e o aconselhamento às moças que podem ser alvo dessas artimanhas.

     b) Cite uma situação da época atual a que essa moral pode se aplicar.
      Resposta pessoal.

     c) Qual é o papel do Lobo Mau no conto lido?
      O de um vilão sedutor que usa artimanhas para seduzir o personagem protagonista, Chapeuzinho Vermelho.

     d) Na propaganda, é possível dizer que Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau desempenham o mesmo papel que no conto maravilhoso? Justifique sua resposta.
      Não. Na propaganda a situação se inverte: enquanto no conto é o Lobo Mau que seduz, na propaganda é a mulher (com características de Chapeuzinho Vermelho) que assume esse papel.

     e) Releia o texto da propaganda. A moral da história é a mesma do conto? Explique.
      Não. O texto da propaganda diz: “Todo Chapeuzinho Vermelho que se preze, um belo dia, coloca o Lobo Mau na coleira”. Assim, a moral também se modifica por causa da troca de papéis assumidos pelas personagens: Chapeuzinho Vermelho passa a ser “dona” da situação.

04 – A propaganda, criada para veicular uma marca de produtos de beleza e perfumaria, foi publicada numa revista. Você conhece revistas que veiculam esse tipo de propaganda? Essas revistas normalmente são destinadas a que público?
      Resposta pessoal. Esse tipo de revista se destina especialmente ao público feminino, que costuma ser o seu público leitor e consumidor de produtos de beleza e perfumaria.

05 – Você considera a propaganda eficiente? Por quê?
       Resposta pessoal.

06 – Com base na relação existente entre os dois textos, responda.
     a) O público-alvo da propaganda poderia compreendê-la sem conhecer a história de Chapeuzinho Vermelho? Explique sua resposta.
      Espera-se que o aluno perceba que a propaganda só faz sentido se conhece o conto maravilhoso, especialmente os papéis assumidos pelas personagens.

     b) Leia o texto a seguir. Converse com seus colegas e seu educador a respeito da conclusão a que chegaram no item a.
intertextualidade se dá quando um texto estabelece um diálogo com outro texto. Como você pode observar, os elementos visuais e verbais da propaganda analisada estabelecem uma relação com o conto maravilhoso O Chapeuzinho Vermelho.
Conhecer esse conto permite ao leitor da revista compreender as relações entre ele e a propaganda. É possível dizer, portanto, que há intertextualidade entre a propaganda e o conto lido.

07 – Releia o slogan da propaganda.
      Você pode ser o que quiser.
      Considerando a noção de intertextualidade acima, responda: Qual é a intenção do slogan da propaganda?
      O aluno pode dar várias respostas: mas deve perceber que existe uma relação entre a expressão “ser o que quiser” e o jogo que a propaganda faz com o personagem representado: a mulher que usa produtos da marca veiculada pela propaganda pode ser bela, sedutora e exercer o papel de quem domina a situação; pode ser Chapeuzinho Vermelho sem ser vítima do Lobo Mau.