terça-feira, 19 de setembro de 2017

MÚSICA(ATIVIDADES): DISPARADA (GERALDO VANDRÉ) - COM GABARITO

MÚSICA(Atividades): DISPARADA
                                                   Geraldo Vandré

 
Prepare o seu coração
Pras coisas
Que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar

Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
A morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar
Eu vivo pra consertar

Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse
Porém por necessidade
Do dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu

Boiadeiro muito tempo
Laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
E boiadeiro era um rei

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos
Que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei

Então não pude seguir
Valente em lugar tenente
E dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente

Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto pra enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar

Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer ir mais longe
Do que eu

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte
Num reino que não tem rei

Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer ir mais longe
Do que eu

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte
Num reino que não tem rei.

COMPREENDENDO A CANÇÃO

1 – De que fala a letra desta canção?
      Fala da alienação dos trabalhadores rurais, explorados pela opressão do latifúndio, que trata o povo da mesma forma que trata o gado.

2 – Como eu-lírico se apresenta nos primeiros versos?
      Como um sertanejo na cidade grande. É um artista, muito provavelmente um cantor de rua. E é na rua que ele está quando começa a contar sua vida. Tem conhecimento de que, durante a narração, pode não agradar algumas pessoas. Ele sabe que a verdade sempre machuca.

3 – Vandré associa o povo daquele seu sertão a uma boiada, percebemos aqui uma metáfora Explique.
      Ele considera que cada pessoa simples era um boi, e ele como integrante daquela sociedade, era também um boi em toda a boiada.

4 – Na 2ª estrofe, o nosso narrador-personagem nos remete para onde?
      À sua vida no sertão, como pobre ele era acostumado à vida difícil, pois estava face a face com a negação, sempre dizendo “não” e a morte não o assustava, era corriqueira.

5 – No momento em que o eu-lírico diz “mas um dia me montei”, que significa este verso?
      Que montar-se seria assumir definitivamente uma nova posição dentro da boiada, vindo a ter, inicialmente, atitude similar à do fazendeiro.

6 – Por fim, que conclusão chega o boiadeiro?
      De que ele sé será forte-verdadeiramente forte, se estiver em um reino onde não há mais um rei.

7 – Vandré nos apresenta subliminarmente que movimento?
      O Anarquismo, para ele a solução para acabar com a dor da sofrida gente sertaneja. Num reino sem rei, onde o poder não será centralizado nas mãos de uma única pessoa. O poder é de todos, porque são os bois que realizam, o trabalho, enquanto os reis boiadeiros nada fazem.



REPORTAGEM : KEIKO DIZ NÃO À LIBERDADE - FLÁVIA VARELLA - COM GABARITO


KEIKO DIZ NÃO À LIBERDADE

        Baleia de Free Willy rejeita a vida selvagem, e verba para salvá-la acaba.
        É triste a história da baleia orca “Keiko”, famosa por estrelar os filmes da série Free Willy. No início da semana passada, a equipe que tenta há cinco anos readaptá-la à vida em liberdade admitiu que é provável que isso jamais aconteça. Keiko parece estar fadada ao cativeiro, condição em que vive faz mais de 20 anos. Daqui a duas semanas, a temporada de verão no hemisfério Norte termina para as orcas selvagens, que nadam perto do cercado montado para abrigar a estrela aposentada numa baía na costa da Islândia, e elas partirão, Keiko já deixou claro que, embora tenha brincado com elas, não pretende acompanha-las. Os biólogos e treinadores poderiam tentar de novo no próximo verão, ainda que com poucas esperanças, mas o dinheiro do projeto está acabando. O custo anual para mantê-la em sua piscina natural é de 3,5 milhões de dólares. Para completar a novela, uma criação comercial de salmão deve ser montada ainda neste mês, justamente onde Keiko está hoje. Mas uma vez a baleia terá de mudar de lar.
        Todos os dias neste verão, Keiko seguiu um barco que a guiava até o mar aberto onde bandos de orcas nadavam. Chegou a seguir algumas e foi seguida, mas, depois de cada viagem, ela sempre acompanhava o barco de volta à costa. A frustação é enorme. A descoberta de que a estrela do filme de 1993 vivia numa piscina mal cuidada em um parque de diversões mexicano sensibilizou o mundo. A fundação Free Willy, criada para dar liberdade à baleia, angariou em dois anos 7,5 milhões de dólares. Em 1996, Keiko foi transferida para um centro de reabilitação de golfinhos e baleias montado com dinheiro da campanha, em Oregon, na costa americana. Após dois anos, foi içada e transferida de avião para seu mar natal, na Islândia.
        Agora, sob os cuidados da Ocean Futures, de Jean-Michel Cousteau, pretendia-se que ela fugisse com as orcas da região onde nasceu. Na Islândia, Keiko aprendeu a comer peixe vivo, que ela própria capturava. Não se distanciou, porém, mais de mil metros do barco de observação. “Nossos gastos já foram além do previsto. Se não conseguirmos mais dinheiro para a reintegração de Keiko à natureza, vamos buscar mais recursos pelo menos para criar um novo ambiente natural e manter a qualidade de vida dela”, afirma Charles Vinick, do grupo que cuida do projeto desenvolvido em torno da orca. Onde, como e com quem viverá Keiko? Nem o mais criativo roteirista de Hollywood sabe. Uma baleia orca em liberdade vive cerca de 50 anos. Keiko tem menos da metade disso.

                                                                   Flávia Varella. In: Veja, ano 34, n° 31,
                                                                                             8 agosto 2001, p. 73.
1 – Escreva no caderno uma frase para cada parágrafo do texto.
      - Primeiro: Keiko, a estrela da série Free Willy, que vive em cativeiro há mais de 20 anos, há cinco vem tentando se readaptar à vida livre, mas não consegue.
      - Segundo: Com dinheiro de uma campanha, a Fundação Free Willy transferiu Keiko de uma piscina mal cuidada, num parque de diversões mexicano, para um centro de reabilitação em Oregon e, posteriormente, para o seu mar natal, na Islândia.
      - Terceiro: Sob os cuidados de Jean-Michel Cousteau, foi reapresentada ao mundo livre, mas permanece próxima ao barco de observação; não há mais verba para mantê-la.

2 – A história de Keiko é muito diferente da história dos outros ursos? Justifique sua resposta.
      Não; a história é bastante semelhante: animais retirados de seu habitat para serem adestrados nem sempre conseguem readaptar-se quando voltam ao lugar de origem.

3 – Lendo apenas o título, o lide (a apresentação da matéria) e a primeira oração do texto, foi possível a você antecipar alguma ideia sobre o que viria a seguir? O quê? Que palavra foi reveladora disso?
      Sim; o título e o lide antecipam as informações presentes no texto. A palavra reveladora foi: liberdade.

4 – “Onde, como e com quem viverá Keiko? Nem o mais criativo roteirista de Hollywood sabe. “Por que, na sua opinião, a autora coloca esse comentário no texto?
      Porque Keiko foi estrela de uma série de filmes; a autora questiona agora seu destino, como se fosse o enredo de uma nova história de aventuras.

5 – Diante dessa informação sobre Keiko, o que é possível pensar sobre:

a)    O uso com “fins artísticos” dos animais?
Tanto na fábula como na vida real percebe-se que é totalmente antinatural usar animais com fins artísticos.

b)    O uso da inteligência e da sabedoria do homem em relação à natureza?
O homem não age com sabedoria em relação à natureza.


FÁBULA: TROPEÇÕES DA INTELIGÊNCIA - RUBEM ALVES - COM GABARITO

FÁBULA: TROPEÇÕES DA INTELIGÊNCIA
                    RUBEM ALVES

        Há a história dos dois ursos que caíram numa armadilha e foram levados para o circo. Um deles, com certeza mais inteligente que o outro, aprendeu logo a se equilibrar na bola e a andar no monociclo, o seu retrato começou a aparecer em cartazes e todo o mundo batia palmas: “Como é inteligente”. O outro, burro, ficava amuado num canto, e, por mais que o treinador fizesse promessas e ameaças, não dava sinais de entender. Chamaram o psicólogo do circo e o diagnóstico veio rápido: “É inútil insistir. O QI é muito baixo...”.
        Ficou abandonado num canto, sem retratos e sem aplausos, urso burro, sem serventia... O tempo passou. Veio a crise econômica e o circo foi à falência. Concluíram que a coisa mais caridosa que se poderia fazer aos animais era devolvê-los às florestas de onde haviam sido tirados. E, assim, os dois ursos fizeram a longa viagem de volta.
        Estranho que em meio à viagem o urso tido por burro parece ter acordado da letargia, como se ele estivesse reconhecendo lugares velhos, odores familiares, enquanto seu amigo de QI alto brincava tristemente com a bola, último presente Finalmente, chegaram e foram soltos. O urso burro sorriu, com aqueles sorrisos que os ursos entendem, deu um urro de prazer e abraçou aquele mundo lindo de que nunca se esquecera. O urso inteligente subiu na sua bola e começou o número que sabia tão bem. Era só o que sabia fazer. Foi então que ele entendeu, em meio às memórias de gritos de crianças, cheiro de pipoca, música de banda, saltos de trapezistas e peixes mortos servidos na boca, que há uma inteligência que é boa para circo. O problema é que ela não presta para viver.

                                              Rubens Alves. Estórias de quem gosta de ensinar.
                                                                         São Paulo: Cortez, 1987. p. 12-3.
1 – Escreva como os dois ursos se comportam:
a)    No circo.
- O Urso “inteligente”: equilibra-se na bola, anda de monociclo, faz sucesso.
-  O Urso “burro”: tem baixo QI; não aprende nada.

b)    Na floresta.
- O Urso “inteligente”: fica triste, repetindo o que sabia fazer no circo.
- O Urso “burro”: acorda, fica feliz e se adapta imediatamente ao lugar.

2 – Copie em seu caderno o resumo esquematizado do texto e complete-o na sequência dos acontecimentos.
      Urso na armadilha; sucesso de um dos ursos: fracasso do outro e o retorno para a floresta.

3 – Por que o autor criou o texto com uma estrutura circular? Procure no texto outros elementos que têm essa estrutura.
      O autor fala em bola, monociclo, objetos que lembram o círculo. O próprio circo, com seu picadeiro e sua estrutura, lembra o círculo. Daí a “estrutura circular” do texto. O significado dessa estrutura pode estar ligado ao fato de estarmos presos a uma rotina ou a um círculo vicioso à medida que temos conceitos errados sobre a situações do ensino e não fazemos nada para muda-las. Chamar a atenção dos alunos para o fato de que o texto figurativo é muito mais interessante que o temático porque traz à mente do leitor imagens concretas: neste caso, é toda a vida mágica e aventureira do circo, com suas cores (bolas, trapezistas) sons (aplausos, gritos, banda) cheiros (animais, pipocas), além, é claro, da imagem da floresta que se reconstitui na memória do leitor com toda sua beleza e naturalidade.

4 – No segundo período do primeiro parágrafo, existe uma afirmação categórica do autor. Essa afirmação é confirmada ou negada no final do texto? Com que intenção o autor a usou? Na sua opinião, por que escolheu narrar a história em terceira pessoa?
      “Um deles, com certeza mais inteligente que o outro...” A afirmação é negada. A intenção do autor era mostrar que a “inteligência” do urso era apenas aparente ou específica para determinadas habilidades. O narrador em terceira pessoal procura distanciar-se dos acontecimentos para imprimir uma certa neutralidade ao texto. Há uma tentativa de imitar a fábula: conta-se um fato que aconteceu num lugar não definido, num tempo mítico, que ele não define qual é. Trata-se, na verdade, de uma estratégia, de um “despistamento” da verdadeira intenção de seu texto.

5 – Seria correto afirmar que “Tropeções da inteligência” é uma fábula? Por quê? O que você sabe sobre as personagens desse tipo de história?
      Sim, é uma espécie de fábula porque as personagens são animais, e ela procura passar um ensinamento Mas é uma fábula moderna porque também há personagens que são pessoas.

6 – O autor introduz na história algumas modernizações que não estão presentes nas fábulas convencionais. Quais?
      Ele cita psicólogo e diagnóstico. O circo passa por crise econômica e vai à falência. Fala também em QI (quociente de inteligência).

7 – Que passagem, no terceiro parágrafo, nos revela que o urso só poderia ser compreendido em seu verdadeiro hábitat?
      “O urso burro sorriu, com aquele sorriso que os burros entendem...”.

8 – É comum haver psicólogo em um circo? Qual a verdadeira intenção do autor ao colocá-lo na história? Afinal, o que o circo representa?
      Não. Ao falar em psicólogo e QI, o autor quer fazer referência às escolas e não aos circos.

9 – A partir da afirmação de que “há uma inteligência que é boa para circo. O problema é que ela não presta para viver”, que relações poderíamos estabelecer entre o texto e nossa realidade? Quem são, na verdade, os ursos? Quem é o inteligente? Quem é o “burro”? (Lembre-se que os animais sobrevivem; nós, humanos, é que utilizamos nossos conhecimentos para viver).
      Poderíamos estabelecer relações entre o texto e um determinado tipo de ensino que é dado aos alunos e que não lhes serve para enfrentar a vida. Os ursos, simbolicamente, seriam os alunos: os “inteligentes” seriam os que se deixam adestrar; os “burros”, os que não aceitam esse tipo de “adestramento”.

10 – Reflita sobre o título do texto: Quem está “tropeçando” afinal? A que inteligência o autor se refere? A hipótese que você formulou a partir do título se confirmou?
      Verificar se as hipóteses dos alunos se confirmaram. O título dá origem a várias interpretações: tropeções podem ser enganos, erros, equívocos; a “inteligência” pode ser interpretada aqui em seu sentido convencional. “Tropeçam” aqueles que têm um julgamento incorreto sobre o que é ser inteligente e então fica bem clara a crítica contundente feita às escolas.

11 – Leia esta frase de Rubem Alves:
        “Para construir uma bomba atômica é preciso ser muito inteligente.
        Para tomar a decisão de desmontar todas elas é necessário ser sábio”.
a)    Relacione o que ele diz ao texto que você leu.
No texto “Tropeções da inteligência”, o urso considerado “burro” podia não ter as habilidades necessárias ao malabarismo do circo (habilidades que, no circo, eram interpretadas como inteligência). Mas tinha a sabedoria que o integrava a seu habitat.

b)    Escreva o que você entende por inteligência e o que você entende por sabedoria.
Resposta pessoal do aluno.

12 – Alguns recursos normalmente usados em poemas podem dar expressividade à prosa.
      Observe como alguns fonemas se repetem:
      “O urso burro sorriu (...) deu um urro...”
a)    Localize no texto outros recursos semelhantes.
Há vários exemplos; observar, principalmente, a repetição de vogais fechadas (o e u), em especial quando o texto se refere ao “urso burro”.

b)    Encontre também, no segundo parágrafo, a repetição de uma preposição utilizada como recurso de linguagem e explique por que esse recurso foi empregado.
Observar, também, a repetição da preposição sem (tira-se tudo do urso: retrato, aplauso, serventia).


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

TEXTO LITERÁRIO : O ESTUDANTE DE MEDICINA - LÚCIA MACHADO DE ALMEIDA - COM GABARITO


O ESTUDANTE DE MEDICINA
LÚCIA MACHADO DE ALMEIDA
        Bem cedo, no dia seguinte, Alberto, metido num avental branco, trafegava de um lado para outro na enfermaria do hospital, em companhia de outros estudantes. Ajudado por um colega que usava óculos com aro de tartaruga, o rapaz começou a tirar sangue da veia de um indigente que deveria sofrer de anemia, tal a sua palidez.
        — Hemoglobinazinha ordinária, hem? disse Alberto, examinando e mostrando ao colega um sangue ralo e apenas rosado dentro da seringa. Vamos ver a contagem de hemácias.
        Os dois amigos dirigiram-se para o laboratório, onde os estudantes começavam a fazer as primeiras pesquisas clínicas.
        Alberto adorava a profissão que escolhera. Talvez fosse por isso que o trabalho se lhe transformava quase que num prazer. Além do mais, o moço tinha forte atração pelo mistério, e a Medicina frequentemente lhe fazia lembrar um verdadeiro romance policial.
        Sim, era preciso auxiliar o órgão atacado, descobrir o “culpado” através dos “vestígios” deixados, e depois guerreá-lo, vencê-lo, custasse o que custasse. Era preciso dominar a grande inimiga, a Morte, combatendo os seus cúmplices, aqueles terríveis seres minúsculos e invisíveis: os micróbios e os vírus. E havia também uma razão mais forte e mais profunda para que o moço gostasse da Medicina: ele sentia que a carreira o punha em contato com o sofrimento humano, proporcionando-lhe oportunidades de aliviá-lo. Sabia que era essa a mais íntima alegria que uma criatura pode ter, e que a dor deixa de ser triste quando nos aproximamos dela para a suavizar.
        Era isso o que Alberto tentava em vão explicar a Rachel Saturnino. A moça irritava-se e repetia sempre:
        — A vida é tão curta! O melhor é desfrutá-la e tirar dela o maior partido possível.
        — Bem, tornava Alberto, a concepção de “aproveitar a vida” varia de indivíduo para indivíduo, é ou não é? O que para um significa prazer, para outro representa futilidade, desperdício de tempo e vice-versa.
(O escaravelho do diabo. 12. ed. São Paulo, Ática, 1985. p, 22 — Série Vaga-lume.)

VOCABULÁRIO
  • Anemia – diminuição da hemoglobina do sangue
  • Desfrutar – aproveitar
  • Futilidade – coisa sem importância
  • Frequentemente – quase sempre
  • Hemoglobina – pigmento dos glóbulos vermelhos que fixa o oxigênio do ar e o cede aos tecidos
  • Hemácia – glóbulo vermelho do sangue
  • Indigente – pessoa que não pode pagar o tratamento
  • Íntima – própria da pessoa
  • Suavizar – amenizar; tornar mais suave
  • Vestígio – resto; marca
ESTUDO DAS PALAVRAS
1. Observe os sentidos da palavra romance nas frases:
Alberto gosta de romance policial.
Adolfo e Helena mantêm um romance há oito anos.
Como você pode ver, uma palavra pode ter vários sentidos, dependendo do contexto da frase. Agora, identifique o sentido com que a palavra partido foi empregada nas frases:
a. Rico, bonito, Solteiro, Carlos parece Um ótimo partido.
    – bom para casar, por ter situação financeira boa.
b. Nossa equipe soube tirar partido da nova solução.
    – vantagem.
c. Ele foi eleito o presidente do nosso partido.
    – grupo político.
d. Na hora da confusão, ele tomou o partido do irmão.
    – ficar do lado.
e. O bolo foi partido em fatias bem pequenas.
    – dividido.
f. Com qual desses sentidos a palavra foi empregada no texto?
    – Tirar vantagem.
2. Observe os sentidos da palavra ralo:
  • Ralador
  • Pouco espesso
  • Parte do encanamento
Com que sentido essa palavra foi empregada no texto?
     – Pouco espesso.
3.  Qual o significado da expressão: “tentar em vão”?
     – Tentar inutilmente.
4.  Copie as frases, substituindo às palavras destacadas por antônimos:
a. Ele usava óculos com aro de tartaruga.
     – Ele usava óculos sem aro de tartaruga.
b. O sangue estava dentro da seringa.
     – O sangue estava fora da seringa.
c. O melhor é desfrutar a vida.
     – O pior é desfrutar a vida.

5. O que faz Alberto pela manhã?
     – Tira sangue de um indigente e o examina no microscópio.

6. Onde Alberto estuda?
     – Na Faculdade de Medicina.

7. Como se sente Alberto em relação à profissão de médico?
     – Ele adora a profissão que escolhera.
8. O texto apresenta uma comparação entre o trabalho médico e a tarefa do detetive. Nessa comparação, que papel representa a doença?
     – A doença representa o culpado.

9. Quais são os agentes causadores das doenças?
     – Os micróbios.

10. Qual é a razão mais profunda do amor de Alberto pela carreira médica?
     – É ajudar a aliviar o sofrimento humano.

11.  Na sua opinião, como Alberto se relaciona com Rachel Saturnino? Por quê?
     – Resposta pessoal.
12.  Entre Alberto e Rachel, com quem você concorda? Por quê?
     – Resposta pessoal.
13.  A sociedade em que Alberto vive tem regras de conduta. No trecho que você leu, como ele se comporta em relação a essas regras?
     – Aparentemente ele respeita as regras sociais.
14. A visão que Alberto apresenta da profissão médica será real ou idealizada? Por quê?

     – Idealizada, já que não aparecem fatores negativos.

CONTO: UMA HISTÓRIA DE DOM QUIXOTE - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

Uma história de Dom Quixote
Moacyr Scliar
 Quando se fala num Quixote, as pessoas logo pensam num desastrado, num sujeito que não consegue fazer nada direito, que tem boas ideias, mas sempre quebra a cara. E até repetem aquela história que o escritor espanhol Cervantes contou sobre o Dom Quixote.
     Ele era um daqueles cavaleiros andantes que usavam armadura, lança e escudo; percorria as planícies da Espanha num cavalo muito magro e muito feio, chamado Rocinante, procurando inimigos a quem pudesse desafiar em nome da moça que amava, e que ele chamava de Dulcineia. Pois um dia este Quixote avistou ao longe uns moinhos de vento.
     Naquela época, vocês sabem, o trigo era moído desta maneira: havia um enorme cata-vento que fazia girar a máquina de moer. Pois o Dom Quixote viu, nesses moinhos, gigantes que agitavam os braços, desafiando-os para a luta.
    Sancho Pança, seu ajudante, tentou convencê-lo de que não havia gigante nenhum; mas foi inútil.
     Dom Quixote estava certo de que aquele era o grande combate de sua vida.  Empunhando a lança, partiu a galope contra os gigantes…
     O resultado, diz Cervantes, foi desastroso. A lança do cavaleiro ficou presa nas asas do moinho, ele foi levantado no ar e depois jogado para longe. Para Sancho, e para todas as pessoas que ali viviam, uma clara prova de que o homem era mesmo maluco.
     Essa era a história que Cervantes contava. Já meu tatara-tatara-tataravô, que também conheceu o Dom Quixote, narrava o episódio de uma maneira inteiramente diferente. Ele dizia que, de fato, Dom Quixote viu os moinhos e que ficou fascinado com eles, mas não por confundi-los com gigantes. “Se eu conseguir enfiar minha lança naquelas asas que giram”, pensou, “e se puder aguentar firme, terei descoberto uma coisa sensacional.”
     E foi o que ele tentou. Não deu completamente certo, porque nada do que a gente faz dá completamente certo; mas, no momento em que a asa do moinho levantava o Dom Quixote, ele viveu o seu momento de glória. Estava subindo, como os astronautas hoje sobem; estava avistando uma paisagem maravilhosa, os campos cultivados, as casas, talvez o mar, lá longe, talvez as terras de além-mar, com as quais todo o mundo sonhava. Mais que isso, ele tinha descoberto uma maneira sensacional de se divertir.
     É verdade que levou um tombo, um tombo feio. Mas isso, naquele momento, não tinha importância. Não para Dom Quixote, o inventor da roda-gigante.

 Extraído e adaptado de FILHO, Otavio Frias et al. Vice-versa ao contrário: histórias clássicas recontadas. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1993

Questão 01
    O autor, Moacyr Scliar, reconta a clássica história de Dom Quixote alterando a versão original. O artifício que utiliza para atingir esse objetivo é
( A ) introduzir, no texto, a versão de seu tatara-tatara-tataravô, um contador de histórias.
( B ) desmentir a história contada por Cervantes, autor do texto original.
( C ) confrontar as versões do seu tatara-tatara-tataravô e a de Cervantes, já que ambos conheceram pessoalmente Dom Quixote.
( D ) ambientar a história em um parque de diversões a fim de torná-la mais leve e divertida.
( E ) recontar a história de acordo com sua imaginação, desconsiderando totalmente a versão original.

Questão 02
Considere as afirmações que seguem a respeito do texto lido.
l. Em suas aventuras, Dom Quixote era acompanhado por seu cavalo Rocinante, por sua amada Dulcineia e por seu fiel escudeiro Sancho Pança.
II. Sancho Pança tinha maior senso de realidade do que Dom Quixote, mas não conseguia fazê-lo desistir de suas ideias.
III. Embora normalmente Dom Quixote se desse mal em suas aventuras, na versão contada por Moacyr Scliar, o personagem atinge seu momento de glória ao inventar a roda gigante. Quais estão corretas?

( A) I, II e III.   ( B) Apenas II.    ( C ) II e III.   ( D) Apenas III.   ( E) Apenas I.


Questão 03 
        Se o narrador da história fosse o próprio Dom Quixote, a frase “Dom Quixote estava certo de que aquele era o grande combate de sua vida.” poderia ser reescrita, mantendo-se a coerência, como:
( A ) Eu estava certa de que estava diante do grande combate de minha vida.
( B ) Eu estava certo de que aquele era o grande combate de minha vida.
( C ) Eu estava certo de que aquele era o grande combate de nossa vida.
( D ) Nós estávamos certos de que se tratava do grande combate de nossa vida.
( E ) Nós estávamos certos de que aquele era o grande combate de minha vida.


Questão 04
       Em um texto narrativo, a história se desenvolve sobretudo com base em uma complicação e em um clímax. As ações que sintetizam essas partes, respectivamente, são:
( A ) o momento em que Dom Quixote leva um tombo feio – o momento em que ele inventa a roda gigante.
( B ) o momento em que Dom Quixote empunha sua lança e combate os moinhos – o momento em que ele vê os gigantes e fica fascinado.
( C ) o momento em que Dom Quixote percorre as planícies da Espanha procurando inimigos para desafiar – o momento em que ele se apaixona por Dulcineia.
( D ) o momento em que Sancho Pança tenta inutilmente convencer Dom Quixote de que não havia gigante nenhum – o momento em que Dom Quixote é levantado pelo moinho e vive seu momento de glória.
( E ) o momento em que Dom Quixote desafia para a luta os moinhos de vento - o momento em que ele enfia sua lança nas “asas” dos moinhos.

Questão 05
        Em narrativas de ficção, o narrador pode mencionar fatos ou expressar opiniões sobre a história. Considerando essa afirmação, analise os trechos selecionados, assinalando se indicam FATO (F) ou OPINIÃO (O). Depois, escolha a alternativa que corresponda a sua resposta:
(F) “Ele era um daqueles cavaleiros andantes que usavam armadura, lança e escudo, […].”
(F) “Naquela época, vocês sabem, o trigo era moído desta maneira: havia um enorme cata-vento que fazia girar a máquina de moer.”
(O) “O resultado, diz Cervantes, foi desastroso.”

(O) “Para Sancho, e para todas as pessoas que ali viviam, uma clara prova de que o homem era mesmo maluco.”
(O) “Não deu completamente certo, porque nada do que a gente faz dá completamente certo; […].”
( A ) F – F – O – O – F
( B ) F – F – O – O – O
( C ) O – F – F – O – O
( D ) O – O – F – F – O
( E ) F – O – O – F – F

Questão 06
Observe o período:
        “A lança do cavaleiro ficou presa nas asas do moinho, ele foi levantado no ar e depois jogado para longe.” Se as ações acima descritas, situadas no passado, indicassem hipótese, o trecho deveria ser reescrito da seguinte maneira:
( A ) A lança do cavaleiro ficara presa nas asas do moinho; ele fora levantado no ar e depois jogado para longe.
( B ) Se a lança do cavaleiro ficasse presa nas asas do moinho, ele seria levantado no ar e depois jogado para longe.
( C ) A lança do cavaleiro havia ficado presa nas asas do moinho, ele havia sido levantado no ar e depois jogado para longe.
( D ) Quando a lança do cavaleiro ficar presa nas asas do moinho, ele será levantado no ar e depois será jogado para longe.
( E ) Caso a lança do cavaleiro fique presa nas asas do moinho, ele deve ser levantado no ar e depois jogado para longe.

Questão 07
        Em “Pois um dia este Dom Quixote avistou ao longe uns moinhos de vento.”  O uso da palavra pois pode ser explicado como:

( A ) uma conjunção explicativa que vincula a ideia iniciada no período à frase anterior.
( B ) um termo que objetiva dar continuidade à narrativa, tornando a linguagem mais rebuscada.
( C ) uma marca de oralidade reproduzida na escrita.
( D ) uma conjunção conclusiva que mantém o mesmo sentido de então.
( E ) um recurso específico das narrativas, que imprime mais dinamicidade à história contada.

Questão 08
        Em “(…) as pessoas logo pensam num sujeito que não consegue fazer nada direito, que tem boas ideias, mas sempre quebra a cara.”, a expressão destacada é usada informalmente. Para se adequar à norma culta, mantendo-se o sentido pretendido, a expressão poderia ser substituída por:
( A ) se frustra.
( B ) se dá mal.
( C ) se coloca em confusão.
( D ) é mal sucedido em suas ações.
( E ) é mal compreendido.

Questão 09
        Em “Mais que isso, ele tinha descoberto uma maneira sensacional de se divertir.”, o termo destacado só não poderia ser substituído, sem prejuízo de sentido, por:
(A)  Maravilhosa.
(B) inesquecível.
(C) fantástica.
(D) espetacular.
    (E) extraordinária.

10 – Existem muitas possibilidades de se começar a contar uma história. Como o escritor Moacyr Scliar começa a contar a história de Dom Quixote?
      Ele relembra o que as pessoas pensam quando se fala em Dom Quixote.

11 – Quem escreveu a história original de Dom Quixote?
      O escritor espanhol Miguel de Cervantes.

12 – A história original de Dom Quixote foi escrita no começo do século XVII (1605), época em que ainda eram comuns as histórias de cavaleiros que lutavam pelo amor da mulher amada. Que feitos e características de Dom Quixote fazem dele um cavaleiro bem diferente dos heróis de seu tempo?
      Ter uma cavalo magro e feio, lutar com moinhos de vento como se fosse um maluco, ser malsucedido em suas ações.

13 – Na história contada pelo tatara-tatara-tataravô do narrador, o que passou pela cabeça de Dom Quixote quando ele viu o moinho de vento?
      Passou-lhe pela cabeça inventar algo sensacional.

14 – Por que no episódio contado pelo tatara-tatara-tataravô do narrador o tombo de Dom Quixote não teve importância?
      Porque ele tinha inventado a roda-gigante.