quinta-feira, 27 de abril de 2017

INOCÊNCIA - VISCONDE DE TAUNAY - (FRAGMENTO) COM GABARITO

INOCÊNCIA
        Visconde de Taunay

         Descrever o abalo que sofreu Inocência ao dar, cara a cara, com Manecão fora impossível. Debuxaram-se-lhe tão vivos na fisionomia o espanto e o terror, que o reparo, não só da parte do noivo, como do próprio pai, habitualmente tão despreocupado, foi repentino.
        --- Que tem você? perguntou Pereira apressadamente.
        --- Homem, a modos, observou Manecão com tristeza, que meto medo à senhora dona...
        Batiam de comoção os queixos da pobrezinha: nervoso estremecimento balanceava-lhe o corpo todo.
        A ela se achegou o mineiro e pegou-lhe o braço.
        --- Mas você não tem febre?... Que é isso, rapariga de Deus?
        Depois, meio risonho e voltando-se para Manecão:
        --- Já sei o que é... ficou toda fora de si... vendo o que não contava ver... Vamos, Nocência, deixe-se de tolices.
        --- Eu quero, murmurou ela, voltar para o meu quarto.
        E encostando-se à parede, com passo vacilante se encaminhou para dentro.
        Ficara sombrio o capataz.
        De sobrecenho carregado, recostara-se à mesa e fora, com a vista, seguindo aquela a quem já chamava esposa.
        Sentou-se defronte dele Pereira com ar de admiração.
        --- E que tal? exclamou por fim... Ninguém pode contar com mulheres, iche!
       Nada retorquiu o outro.
       --- Sua filha, indagou ele de repente com voz muito arrastada e parado a cada palavra, viu alguém?
       Descorou o mineiro e quase a balbuciar:
       --- Não... isto é, viu... mas todos os dias... ela vê gente... Por que me pergunta isso?
       --- Por nada...
       --- Não; ... explique-se... Você faz assim uma pergunta que me deixa um pouco... anarquizado. Este negócio é muito, muito sério. Dei-lhe palavra de honra que minha filha haverá de ser sua mulher... a cidade já sabe e ... comigo não quero histórias... É o que lhe digo.
       --- Está bom, replicou ele, nada de precipitações. Toda a vida fui assim ... Já volto; vou ver onde para o meu cavalo.
       E saiu, deixando Pereira entregue a encontradas suposições.
       Decorreram dias, sem que os dois tocassem mais no assunto que lhes moía o coração. Ambos, calmos na aparência, viviam comum, visitavam as plantações, comiam juntos, caçavam e só se separavam à hora de dormir, quando o mineiro ia para dentro e Manecão para a sala dos hóspedes.
       Inocência não aparecia.
       Mal saía do quarto, pretextando recaída de sezões: entretanto, não era o seu corpo o doente, não; a sua alma, sim, essa sofria morte e paixão; e amargas lágrimas, sobretudo à noite, lhe inundavam o rosto.
       --- Meu Deus, exclamou ela, que será de mim? Nossa senhora da Guia me socorra. Que pode uma infeliz rapariga dos sertões contra tanta desgraça? Eu vivia tão sossegada neste retiro, amparada por meu pai... que agora tanto medo me mete... Deus do céu, piedade, piedade.
       E de joelhos, diante de tosco oratório alumiado por esguias velas de cera, orava com fervor, balbuciando as preces que costumava recitar antes de se deitar.
       Uma noite, disse ela:
       --- Quisera uma reza que me enchesse mais o coração... que mais me aliviasse o peso da agonia de hoje...
       E, como levada de inspiração, prostrou-se murmurando:
       --- Minha Nossa Senhora mãe da Virgem que nunca pecou, ide adiante de Deus. Pedi-lhe que tenha pena de mim... que não me deixe assim nesta dor cá de dentro tão cruel. Estendei a vossa mão sobre mim. Se é crime amar a Cirino, mandai-me a morte. Que culpa tenho eu do que me sucede? Rezei tanto, para não gostar deste homem! Tudo... Tudo... foi inútil! Por que então este suplício de todos os momentos? Nem sequer tem alívio no sono? sempre ele... ele!
       Às vezes, sentia Inocência em si ímpetos de resistência: era a natureza do pai que acordava, natureza forte, teimosa.
       --- Hei de ir, dizia então com olhos a chamejar, à igreja, mas de rastos! No rosto do padre gritei: Não, Não! ... Matem-me... mas eu não quero...
       Quando a lembrança de Cirino se lhe apresentava mais viva, estorcia-se de desespero. A paixão punha lhe o peito em fogo...
       --- Que é isto, Santo Deus? Aquele homem me teria botado um mau olhado? Cirino, Cirino, volta, vem tomar-me... leva-me! ... eu morro! Sou tua, só tua... de mais ninguém.
                    VISCONDE DE TAUNAY. Inocência. 7. ed. São Paulo, Ática, 1978.
                                                                                                                   p. 109-10.
Sobrecenho: semblante severo; carrancudo.
Sezão: febre intermitente ou periódica.

1 – Em que linha fica evidente a preocupação de Pereira em manter a palavra empenhada junto a Manecão?
       Linhas 30 e 31.

2 – Das características românticas abaixo relacionadas, quais são as que se aplicam ao texto?
a)     Idealização.
b)    Evasão do tempo;
c)     Supervalorização do amor.
d)    Supervalorização da natureza.
e)     Religiosidade.

3 – O aproveitamento da fala do sertanejo é uma das características marcantes da linguagem de Taunay. Transcreva do texto quatro termos que comprovam essa afirmativa e dê o significado de cada um deles.
       Iche! = Virgem! (interjeição)                haverá = haveria, teria
       Anarquisado = perturbado                   ansim = assim
       Percipitação = precipitação, pressa.


A MORENINHA - JOAQUIM MANUEL DE MACEDO - (FRAGMENTO) - COM GABARITO

   A MORENINHA
         Joaquim Manuel de Macedo

          Um sarau é o bocado mais delicioso que temos, de telhado abaixo.
          Em um sarau todo o mundo tem que fazer. O diplomata ajusta, com um copo de champanha na mão, os mais intrincados negócios; todos murmuram e não há quem deixe de ser murmurado. O velho lembra-se dos minuetes e das cantigas do seu tempo, e o moço goza de todos os regalos da sua época; as moças são no sarau como as estrelas no céu; estão no seu elemento; aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa nas asas dos aplausos, por entre os quais surde, às vezes, um bravíssimo inopinado, que solta de lá da sala do jogo o parceiro que acaba de ganhar sua partida do écarté, mesmo na ocasião em que a moça se espicha completamente, desafinando um sustenido; daí a pouco vão outras pelo braço de seus pares, se deslizando pela sala  e marchando em seu passeio, mais a compasso que qualquer de nossos batalhões da Guarda Nacional, ao mesmo tempo que conversam sempre sobre objetos inocentes que movem olhaduras e risadinhas apreciáveis. Outras criticam de uma gorducha vovó, que ensaca nos bolsos meia bandeja de doces que vieram para o chá, e que ela leva aos pequenos que, diz, lhe ficaram em casa. Ali vê-se um ataviado dândi que dirige mil finezas a uma senhora idosa, tendo os olhos pregados na sinhá, que senta-se ao lado. Finalmente, no sarau não é essencial ter cabeça nem boca, porque, para alguns é regra, durante ele, pensar pelos pés e falar pelos olhos.
          E o mais é que nós estamos num sarau: inúmeros batéis conduziram da corte para a ilha de... senhoras e senhores, recomendáveis por caráter e qualidade: alegre, numerosa e escolhida sociedade enche a grande casa, que brilha e mostra em toda a parte borbulhar o prazer e o bom gosto.
          Entre todas essas elegantes e agradáveis moças, que com aturado empenho se esforçam por ver qual delas vence em graças, encantos e donaires, certo que sobrepuja a travessa Moreninha, princesa daquela festa.
          Hábil menina é ela! Nunca seu amor-próprio produziu com tanto estudo seu toucador e, contudo, dir-se-ia que o gênio da simplicidade a penteara e vestira. Enquanto as outras moças haviam esgotado a paciência de seus cabeleireiros, posto em tributo toda a habilidade das modistas da rua do Ouvidor e coberto seus colos com as mais ricas e preciosas joias, d. Carolina dividiu seus cabelos em duas tranças, que deixou cair pelas costas; não quis adornar o pescoço com seu adereço de brilhantes nem com seu lindo colar de esmeraldas; vestiu um finíssimo, mas simples vestido de garça, que até pecava contra a moda reinante, por não ser sobejamente comprido. Vindo assim aparecer na sala, arrebatou todas as vistas e atenções.
          Porém, se um atento observador a estudasse, descobriria que ela adrede se mostrava assim, para ostentar as longas e ondeadas madeixas negras, em belo contraste com a alvura de seu vestido branco, e par mostrar, todo nu, o elevado colo de alabastro, que tanto a aformoseava, e que seu pecado contra a moda reinante não era senão um meio sutil de que se aproveitara para deixar ver o pezinho mais bem feito e mais pequeno que se pode imaginar.

                      MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. 9. ed. São Paulo,
                                                                                                 Ática, 1979. p. 80-1.
Minuete: antiga dança francesa.
Cavatina: pequena ária.
Écarté: jogo entre dois parceiros com 32 cartas.
Ataviado: enfeitado, ornado.
Dândi: homem que se veste com extremo apuro; almofadinha.
Batel: pequeno barco.
Toucador: espécie de cômoda encimada por um espelho; penteadeira.
Adereço: joia, objeto de adorno.
Sobejamente: demasiadamente.
Adrede: intencionalmente; de propósito.
Colo: parte do corpo formada pelo pescoço e ombros.
Alabastro: rocha pouco dura e muito branca; brancura, alvura.

1 – A que classe social pertencem as personagens que aparecem no texto?
       Pertencem à elite da sociedade carioca da época.

2 – Segundo Werneck Sodré, Macedo refletiu as “trivialidades” dos meados do século XIX. Identifique, no texto lido, elementos que denotam essa trivialidade.
       A preocupação com a indumentária, os galanteios, os mexericos.

3 – O baile era muito importante na vida social e sentimental do século passado, pois as mulheres viviam reclusas no ambiente doméstico e o baile propiciava os encontros que poderiam se transformar em namoro e casamento. Como se reflete essa preocupação na indumentária das mulheres?
       Todas procuravam atingir o requinte máximo de elegância, de acordo com a moda da época.

4 – Que característica romântica se pode notar na descrição da personagem central da narrativa?
       A personagem é idealizada.


quarta-feira, 26 de abril de 2017

MARÍLIA DE DIRCEU - TOMÁS ANTÔNIO GONZADA - (FRAGMENTO)COM GABARITO

LITERATURA BRASILEIRA


MARÍLIA DE DIRCEU
            Tomás Antônio Gonzaga

Eu Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite
e mais as finas lãs, de que me visto.
          Graças, Marília bela,
          graças à minha estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte:
dos anos inda não está cortado;
os pastores que habitam este monte
respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza too a sanfoninha,
que inveja até me tem o próprio Alceste:
ao som dela concerto a voz celeste,
nem canto letra que não seja minha.
           Graças, Marília bela,
           graças à minha estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
só apreço lhes dou, gentil pastora,
depois que o teu afeto me segura
que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
de um rebanho, que cubro monte e prado;
porém, gentil pastora, o teu agrado
vale mais que um rebanho e mais que um trono.
          Graças, Marília bela,
          graças à minha estrela!
Os teus olhos espalham luz divina,
a quem a luz do sol em vão se atreve;
papoila ou rosa delicada e fina
te cobre as faces, que são cor da neve.
Os teus cabelos são uns fios d`ouro;
teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! não, não fez o céu, gentil pastora,
para glória de amor igual tesouro!
          Graças, Marília bela,
          graças à minha estrela!
Leve-me a sementeira muito embora
 o rio, sobre os campos levantado;
acabe, acabe a peste matadora,
sem deixar uma rês, o nédio gado.
 Já destes bens, Marília, não preciso
nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
para viver feliz, Marília, basta
que os olhos movas, e me dês um riso.
          Graças, Marília bela,
          graças à minha estrela!
Irás a divertir-te na floresta,
sustentada, Marília, no meu braço;
aqui descansarei a quente sesta,
dormindo um leve sono em teu regaço;
enquanto a luta jogam os pastores,
e emparelhados correm nas campinas,
toucarei teus cabelos de boninas,
nos troncos gravarei os teus louvores.
          Graças, Marília bela,
          graças à minha estrela!
Depois que nos ferir a mão da morte,
ou seja neste monte, ou noutra serra,
nossos corpos terão, terão a sorte
de consumir os dous a mesma terra.
Na campa, rodeada de cipretes,
lerão estas palavras os pastores:
“Quem quiser ser feliz nos seus amores,
siga os exemplos que nos deram estes.”
          Graças, Marília bela,
          graças à minha estrela!

                                   GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu.
             In: Sérgio Buarque de Holanda (org). Antologia dos poetas
   brasileiros da fase colonial. São Paulo, Perspectiva,1979, p. 301.

Tosco: rude, grosseiro.
Casal: pequena propriedade rústica; granja.
Assistir: morar
Cajado: bastão; bordão de pastor, com a extremidade superior arqueada.
Alceste: nome que o poeta atribui a seu amigo Cláudio M. da Costa.
Concertar: fazer soar harmonicamente.
Ventura: sorte, destino, felicidade.
Apreço: consideração, estima.
Segurar: garantir, assegurar.
Vaporar: exalar ou lançar (vapores)
Nédio: luzidio, brilhante.
Regaço: cavidade formada por veste comprida, entre a cintura e os joelhos de quem está sentado.
Toucar: cobrir (com touca).
Bonina: margarida-rasteira.
Campa: pedra que cobre a sepultura.

1 – Chama-se bucolismo a utilização, na literatura, de temas relacionados à vida campestre e pastoril.
a)    Cite seis palavras do texto que se relacionam ao bucolismo.
Vaqueiro, gado, casal, ovelhinhas, fonte, pastores, cajado, rebanho, monte, prado, floresta, campinas – entre outras.

b)    O disfarce assumido pelo poeta, assim como a maneira que ele emprega ao dirigir-se a Marília, no primeiro verso da 3ª estrofe, tem relação com o bucolismo. Explique essa afirmativa.
O poeta se faz passar por pastor e chama Marília de gentil pastora.

2 – Nas duas primeiras estrofes, o poeta faz uma descrição de sua situação social e de seus dotes artísticos. A partir da terceira estrofe, todos esses “dotes de ventura” são considerados inúteis, exceto se for preenchida uma condição na vida dele. De que condição se trata?
         Trata-se de casar com Marília (“queres do que tenho ser senhora”).

3 – Na quarta estrofe aparece a descrição de Marília.
a)     O poeta preocupa-se com a descrição física ou com a descrição psicológica da amada?
A preocupação é exclusivamente com a descrição física.

b)    Qual é a área do corpo feminino focalizada pelo poeta?
Ele se limita a descrever o rosto da mulher amada.

c)     Nas comparações que utiliza para descrever Marília, o poeta serve-se de elementos pertencentes ao mundo natural ou cultural?
Todas as comparações são feitas com elementos do mundo natural.

d)    Que palavra dessa estrofe resume os encantos de Marília?
A palavra é tesouro (8º verso dessa estrofe).

4 – A expressão do relacionamento amoroso baseia-se no racionalismo, isto é, o poeta não se deixa arrastar pela emoção. Copie o verso em que aparece a justificativa dele próprio para tal procedimento.
        “Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta” (5ª estrofe, 6º verso).

5 – Chama-se, em relação ao Arcadismo, de dourada mediocridade ou áurea mediocridade o ideal de vida equilibrada, sem paixões. Para atingir esse tipo de existência, seria necessário a fuga da cidade e o contato direto com a natureza. Faça uma lista dos verbos da penúltima estrofe que estejam relacionados com o conceito de áurea mediocridade.
        Divertir-se, descansar, dormir, jogar, correr.

6 – O poeta pretende que esse ideal de relacionamento amoroso não seja apenas o dele e de Marília, mas que tenha validade universal. Que verso da última estrofe comprova essa afirmativa?
        “Siga os exemplos que nos deram estes”.


Comparação, Metáfora, Metonímia: Figuras Importantes na Construção dos Textos

Comparação, Metáfora, Metonímia: Figuras Importantes na Construção dos Textos



Metáfora (Gilberto Gil)
Uma lata existe para conter algo,
Mas quando o poeta diz lata
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo,
Mas quando o poeta diz meta
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo-nada cabe,
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha a caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta,
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
(in https://www.vagalume.com.br/gilberto-gil/metafora.html )
Essa canção, empregando a função metalinguística, apresenta o conceito de metáfora, uma figura bastante presente nos textos literários e nos textos do cotidiano. E por falar em conter, contido e incontível, observemos as figuras abaixo:

FIGURA 1

FIGURA 2

FIGURA 3
Quando empregamos as palavras para expressar ideias, podemos fazer isso usando os vocábulos no seu sentido real (denotação) ou desviar o sentido para dar mais expressividade ao texto, lançando mão do sentido figurado (conotação) e, nesse segundo caso, estarão em ação as chamadas figuras de linguagem.
Vamos começar o assunto de hoje pegando emprestadas da Matemática algumas ideias, especificamente da teoria dos conjuntos. As imagens acima servem bem para que visualizemos as três figuras de linguagem sobre as quais falaremos hoje: a comparação (ou símile), a metáfora e a metonímia.

Comparação

Observando a primeira figura constatamos que A = B, ou seja, as características de A também aparecem em B. Assim, quando verbalizamos essa semelhança, estamos estabelecendo uma comparação, como a que está presente nos versos abaixo:
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar (…)
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor”
( https://www.vagalume.com.br/vinicius-de-moraes/a-felicidade.html)
A leveza está presente na felicidade e na pluma, o brilho também aparece tanto no sentimento quanto na gota de orvalho. Relacionando as características temos a conjunção como. Nas comparações sempre estão presentes os conectivos, para ligar as semelhanças presentes nos seres.

Metáfora

É uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece (não há conjunções), o autor espera que o leitor ‘desvende’ o implícito, com base no conhecimento de mundo que possui. Nos conjuntos, essa semelhança implícita aparece na intersecção, conforme a figura 2.
O amor é um grande laço
Um passo pr’uma armadilha” 
(Djavan, Faltando um pedaço)
A = amor ; B = laço
A Intersecção com B = ação de prender
O que há em comum é que ambos prendem, mas é o leitor que precisa inferir isso. Quando o elemento em comum não faz parte do nosso conhecimento de mundo, ficamos impossibilitados de compreender totalmente a ideia do artista, o que dificulta inclusive a apreciação da obra (e a resolução de algumas questões nos exames e provas, daí a necessidade de ler bastante e ampliar cada vez mais o nosso repertório cultural).

Metonímia

Essa figura aparece quando um termo assume outro sentido, não real ou denotativo, por meio de uma associação de ideias tendo como base a contiguidade entre os elementos, ou seja, é uma analogia por sentidos próximos.
Fotografei você na minha RolleiFlex
Revelou-se a sua enorme ingratidão
(In https://www.vagalume.com.br/joao-gilberto/desafinado.html )
Na canção de Tom Jobim, ele empregou a marca, Rolleiflex, pelo equipamento, para fazer referência à máquina fotográfica. Mas pode ser também o autor pela obra (Adoro ler Machado de Assis); o lugar pelo produto (Meu primo gosta de fumar Havana e beber Paraty. – Havana = charuto e Paraty = cachaça) entre outras relações.

Assunto Para o Enem A Crise Econômica Brasileira

Assunto Para o Enem: A Crise Econômica Brasileira


Não há como negar que o Brasil passa por uma das crises econômicas mais acentuadas de nossa história. Além disso, os problemas na política e seus casos de corrupção que aparecem praticamente todos os dias dão ainda mais dramaticidade nesse conturbado período. Entretanto, nossa análise não pode ficar apenas restrita a esses últimos anos. Uma visão mais geral da nossa economia é importante para que possamos entender, de fato, como estamos e onde podemos chegar. Confira mais sobre esse assunto que certamente pode cair no ENEM.
De acordo com a divulgação de primeiro de fevereiro de 2017 do Banco Mundial, o Brasil é a nona economia do mundo, com um PIB (Produto Interno Bruto) de aproximadamente 1,77 trilhões de dólares (esse é um dos principais indicadores da economia de um país). Esse valor representa aproximadamente 2,39% na participação da economia de todo o globo. Não é pouco, embora boa parte deste dado esteja relacionada a quantidade de cidadãos. Afinal, somos mais de 200 milhões brasileiros!
O problema é que esse PIB vem caindo desde 2015, quando recuou 3,8%. No ano seguinte (2016), a queda foi de 3,6%. Vale ressaltar que nesse mesmo período de dois anos, os países do globo cresceram numa média superior a 3% por ano. Para se ter uma ideia da dificuldade da situação, no ano passado, os números revelam que houve recuo nos três setores que entram no cálculo do PIB anual – agropecuária (-6,6%), indústria (-3,8%) e serviços (-2,7%). A última vez que os três setores caíram juntos foi em 1996, e mesmo assim a queda não foi tão intensa. Em 2014, apenas o setor industrial caiu, mas os serviços e agropecuária continuavam crescendo. Em 2015, caíram a indústria e os serviços. Já em 2016, a agropecuária.
Com essa queda generalizada em todos os setores, não é a toa que o desemprego já superou a casa dos 13 milhões, de acordo com o próprio IBGE.
Portanto, o principal desafio agora é, antes de qualquer coisa, tentar “frear” essa vertiginosa queda. Só depois podemos pensar em retomar o crescimento. Dentre tantas notícias ruins, pelo menos uma boa: um dos nossos setores mais importante, o Agronegócio, no último mês de março, já deu sinais de recuperação e cresceu 4,6% em relação ao mesmo mês do ano passado (clique aqui para ver a matéria). Não é muito, mas com certeza um respiro.
  


segunda-feira, 24 de abril de 2017

DISCURSO DIRETO E INDIRETO - FONTE: DESCOBRINDO A GRAMÁTICA - FTD - COM GABARITO

DISCURSO DIRETO E INDIRETO - COM GABARITO
TEREZA
          A Teresa voltou da praia, e estive a pique de lhe dizer que queria acabar o namoro. Mas ela estava tão contente, contando as novidades, que terminei ficando com dó e adiei a decisão. Sem contar que o sol lhe tinha feito muito bem. Os olhos de Teresa pareciam mais bonitos com a pele bronzeada.
          A Teresa não parava de falar, e eu só escutando, com vontade de estar longe dali. Mas chegou uma hora em que ela percebeu que eu estava triste e perguntou por quê.
          --- Estou triste por sua causa.
          --- Por minha causa? Por quê?
          Hesitei um pouco. Dizia ou não dizia que não gostava mais dela?
          --- Estava com saudades.
          Na hora em que disse aquilo, me senti o pior sujeito do mundo. Mas o que podia fazer, se já tinha falado?
          --- Mas eu estou aqui, Sérgio.
          --- Pois é, você voltou.
          --- O que você está querendo dizer com isso?
          --- Nada, Tereza, nada...
          --- Serginhooô...
          O difícil era que a Teresa não entendia nada do que lhe dizia. Ainda por cima, vinha com aquele jeito enjoado de dizer “Serginhooô”, que me deixava com mais raiva. Mas ela logo esqueceu do que estávamos falando e começou a contar do biquíni que havia comprado, das praias de Santos, do novo carro do pai etc. E eu com a cabeça em outro lugar, só pensando na Cybelle e nas coisas que ela tinha me dito. “Você tem razão, garota, eu não presto mesmo. Não mereço você”, falei baixinho.
          --- O que foi que você disse? --- Teresa perguntou.
          --- Nada não...
          Fiquei torcendo para que ela dissesse que eu não estava prestando atenção na conversa. Seria mais um motivo para uma briga. E dessa vez eu terminaria com aquele namoro que já me chateava. Mas a Tereza não disse nada e continuou a falar de Santos, dos passeios na praia. E eu ali a seu lado com a cabeça nas nuvens, que tomavam a forma da Cybelle, do corpo da Cybelle, do sorriso da Cybelle. “Tão bela...”
          --- Serginho, você ficou maluco?
          --- Maluco por quê?
          --- Você não para de falar sozinho.
          Olhei bem para a Teresa, para aqueles olhos verdes, e dei-lhe um beijo.
          --- Tem razão, Tereza, estou completamente maluco.
                                         Amor & cuba-libre. São Paulo, FTD, 1980.
1 – Escreva nos parênteses DD para discurso direto e DI para discurso indireto.
        (DI) “...estive a pique de lhe dizer que queria acabar nosso namoro”.
        (DI) “Mas chegou uma hora em que ela percebeu que eu estava triste e perguntou por quê”.
        (DD) “--- O que foi que você disse?”
        (DD) “--- Estou triste por sua causa”.
        (DI) “Dizia ou não dizia que não gostava mais dela”?

2 – Retire do texto mais três exemplos de discurso direto.
      Educador: Há mais outros exemplos.
      - Por minha causa? Por quê?
      - Estava com saudades.
      - Mas eu estou aqui. Sérgio.
3 – Transforme o discurso indireto abaixo em direto.
      “Fiquei torcendo para que ela dissesse que eu não estava prestando atenção na conversa.”
      Fiquei torcendo para que ela dissesse:
      --- Você não está prestando atenção na conversa.
4 – Observe:
      Ele disse:
      --- Estou triste por sua causa.
                              ou
      --- Estou triste por sua causa --- disse ele.
      Escreva uma segunda possibilidade para o discurso direto.
a)   Ela me perguntou: ---Por quê?
--- Por quê? --- ela me perguntou.
b)   Alguém lhe sugeriu: --- Seja honesto com Teresa.
--- Seja honesto com Teresa --- alguém lhe sugeriu.
c)   Ele decidiu: --- Agora, chega.
--- Agora, chega --- ele decidiu.
d)   Teresa me perguntou: --- O que foi que você disse?
---O que foi que você disse? --- Tereza me perguntou.
5 – Diga se há discurso direto ou indireto no período abaixo.
      “Você tem razão, garota, eu não presto mesmo. Não mereço você”, Falei baixinho.
      Discurso direto.
6 – Procure no texto dois verbos de elocução empregados no discurso direto e escreva-os abaixo.
      Perguntou e falei.
7 – Transcreva os discursos diretos em indiretos. Atenção ao tempo verbal e outras mudanças.
a)   Perguntei a ela: --- Você é irmã de Marina?
Perguntei a ela se era irmã de Marina.
b)   Minha filha argumentou:
--- Já tenho idade suficiente para sair sozinha.
Minha filha argumentou que já tinha idade suficiente para sair sozinha.
c)   O professor sugeriu:
--- Vocês deveriam ler Machado de Assis.
O professor sugeriu que deveríamos ler Machado de Assis.
d)   Benedita me pediu:
--- Traga-me uma vassoura nova.
Benedita me pediu que lhe trouxesse uma vassoura nova.
e)   Elisabete ponderou:
--- É perigoso sairmos sozinhas a esta hora.
Elisabete ponderou que era perigoso saírem sozinhas àquela hora.


PIADA   A

          Uma cliente furiosa foi à padaria onde eu trabalhava, para se queixar da dureza do pão que tinha comprado na véspera.
          --- Senhora --- disse meu patrão, indignado ---, faço pão há quinze anos!
          --- Ah, é? --- retorquiu ela prontamente. --- Pois não deveria ter esperado tanto tempo para vender.
                                                   Seleções – Reader´s digest, nº 235.
                                                           Lisboa, Lis Gráfica, abril, 1991.


PIADA    B
          O time estava se preparando para disputar a final do campeonato brasileiro de futebol. Um jogo duríssimo. Mas acontece que em todos os treinos sempre faltava um ou outro jogador. No último treino, às vésperas do fogo final, o treinador, bastante irritado, disse a todos:
          --- Gostaria de agradecer ao goleiro, que foi o único presente a todos os treinos.
          O garotão ficou todo feliz com o elogio e aproveitou pra avisar.
          --- Fiz questão de comparecer a todos os treinos porque não vou poder vir ao jogo, amanhã.
                                          As melhores piadas e anedotas da praça.
                                                                        São Paulo, Green, s/d.
1 – Retire o primeiro discurso direto da piada A.
      --- Senhora --- disse meu patrão, indignado ---, faço pão há quinze anos!
2 – Escreva os dois verbos de elocução que aparecem na piada A.
      Disse e retorquiu.
3 – Passe para o discurso indireto a resposta dada no item 1.
      Meu patrão disse, indignado, que há quinze anos fazia pão.
4 – Retire os dois verbos de elocução diretos da piada B.
       Disse e avisar.
5 – Passe os dois discursos diretos da piada B para indiretos.
      O treinador, bastante irritado, disse a todos que gostaria de agradecer ao goleiro, que fora o único presente a todos os treinos.
      O garotão aproveitou para avisar que fizera questão de comparecer a todos os treinos porque não poderia ir ao jogo no dia seguinte.

Fonte:
GIACOMOZZI, Gilio; VALÉRIO, Gildete; FENGA, Cláudia Reda. Descobrindo a Gramática. São Paulo: FTD, 2001, p. 82-85.