domingo, 20 de maio de 2018

CONTO: MEDO - ODENILDE NOGUEIRA MARTINS - COM GABARITO

CONTO: Medo 

      Tudo calmo. Archimedes estava só, em casa. Quando chegou, avistara um bilhete sobre a mesa, próximo à cesta de frutas. 
        “Filho, seu pai e eu precisamos viajar. Sua avó não está passando bem. Há comida pronta no freezer, aqueça no micro-ondas. Na geladeira tem leite e iogurte. Ah! Verduras também! Não te esqueças de colocar o relógio para despertar. Nada de “perder” a hora. Voltamos logo. Beijo de seu pai e sua mãe. Te amamos” 
        A casa era toda sua! Ninguém para mandá-lo tomar banho, escovar os dentes, dormir cedo, bom demais! Os pais se esqueciam de que ele já não era um menino, que tinha vinte anos. Grande foi a tentação de convidar os amigos e fazer uma festança! Havia comida, os amigos podiam trazer a bebida. Nem entrariam na casa, a bagunça seria do lado de fora à beira da piscina. Chegou a pegar o celular para convidar os amigos, mas a razão aconselhou que era uma péssima ideia. Como iria fazer uma festa sem deixar vestígios e sem que a empregada desse com a língua nos dentes? 
        – Sem chance! – concluiu. – Melhor aquietar o facho. 
        Andou pela casa, preparou um lanche e o silêncio despertou-lhe a vontade de ler. Por que não terminar a leitura daquele livro de Edgar Allan Poe, cheio de mistérios? Procurou por entre a bagunça que era seu quarto. De posse, daquele que seria seu companheiro por algumas horas, rumou para a sala disposto a escachar-se no sofá, onde só era permitido sentar-se. Pés sobre ele, nem pensar! Sua mãe quase tinha um ataque de nervos toda vez que o via, ou ao pai, tirando um cochilo sobre o mesmo. Era caro demais, dizia ela, para que o fizessem de cama. 
        Iniciou a leitura por “Berenice”. A história era por demais envolvente, a sensação de medo traduzia-se em aumento de adrenalina, o que só ratificava sua preferência pelo autor. 
        Um forte ribombo acompanhado de um risco luminoso cortando o céu, anunciava mudança no tempo. Uma chuva forte estava a caminho, bem próxima. “Atmosfera perfeita”, pensou. Levantou-se para fechar a janela que havia deixado aberta e constatou que o céu estava estrelado. Intrigado, voltou ao sofá para iniciar a leitura de outra história. 
        Tão logo se acomodou, despertou-lhe a atenção uma pequena caixa vermelha sobre o aparador que ficava próximo à janela. 
        – São os dentes de Berenice – murmurou, em tom irônico. 
        Nem bem abriu o Edgar Allan Poe, a porta da sala fechou-se com um estrondo, e uma lufada de vento invadiu o cômodo, revirando a toalha da mesa e o jornal que o pai havia deixado sobre o aparador. 
        – Archimedes, por quê? Eu te amo tanto! Por que, meu amor? 
        – O que está acontecendo? – balbucia, pálido de terror. 
        Diante de si, no umbral da porta, está Carla, sangue escorrendo da boca desdentada. O terror intenso põe o rapaz em pé, que, em um movimento violento, quebra o vaso de porcelana da dinastia Ming, adquirido pela mãe em um leilão. Paralisado pelo pavor, vê Carla afastar-se em meio a soluços de dor. 
        – Carla, espera! O que aconteceu? – grita desesperado, tentando segui-la, mas é impedido pela mesa de centro. A dor no joelho é tão forte que ele cai. 
        Quando finalmente consegue levantar-se, o que viu aterrorizou-o ainda mais, lá estava, no sofá revestido de fino veludo italiano, uma pasta de folhas de alface, pepino, catchup e mostarda; no chão, os cacos do pequeno tesouro garimpado pela mãe em uma viagem a Hong Kong. Da caixinha vermelha sobre o aparador, nem sinal. 
        Foi o som do telefone tocando que o tirou do estado catatônico em que se encontrava. 
        – Alô. 
        – Archimedes! Espero que tenhas uma desculpa muito boa para o fato de ter me deixado plantada na frente do cinema, ou eu arranco o teu couro! – berrava Carla. 
        Desligou o telefone sem dizer uma palavra. Estava em uma enrascada tremenda, destruiu o sofá e a obra de arte da qual a mãe tanto se gabava. Maldito Edgar Allan Poe e suas histórias! Por culpa dele, quem ficaria sem os dentes, assim que a mãe chegasse, era ele! E ainda perderia a namorada que não ia acreditar que ele estava em casa lendo, adormeceu e, por isso, não fora ao encontro marcado.

                    Odenilde Nogueira Martins - Medo: In: Caso encerrado.


Entendendo o texto:
01 – Certamente você já escreveu um bilhete. Quais elementos esse gênero textual precisa apresentar?
      Deve conter os seguintes elementos: destinatário (a pessoa que receberá o bilhete), mensagem, nome legível do emissor e data. 

02 – Identifique o destinatário e o emissor do bilhete.
      Destinatário: filho; emissor: mãe.

03 – Há, no bilhete escrito pela mãe, um vocativo. Identifique-o.
      Filho – Archimedes.

04 – Explique o uso de aspas na palavra "perder", segundo parágrafo.
      A palavra "perder" foi usada no sentido figurado e denota ironia.

05 – O que significa "aquietar o facho"?
      Significa: sossegar, ficar quieto.

06 – No trecho: "...o que só ratificava sua preferência pelo autor.", "ratificava" significa:
(a) - Corrigir, emendar, alinhar, endireitar, 
(b) - Confirmar, autenticar um ato ou compromisso.

07 – Quem é Edgar Allan Poe?
      Edgar Allan Poe é um escritor. 

08– Identifique no conto "Medo":
      a - Foco narrativo, tipo de narrador;
Terceira pessoa, narrador observador;

 b - Espaço físico da narrativa (onde);
Casa da personagem Archimedes, mais precisamente, a sala de estar;

         c - espaço temporal ( quando), comprove;
         Tempo indefinido: os fatos aconteceram à noite: "Levantou-se para fechar     a janela que havia deixado aberta e constatou que o céu estava estrelado."

09 – Quem é Berenice?
      Berenice é personagem de uma das histórias do livro de Edgar Allan Poe.

10 – Que fato despertou a atenção do rapaz?
      Uma pequena caixa vermelha sobre o aparador que ficava próximo à janela.

11 – O que aterrorizou mais Archimedes?
      Ver, no sofá revestido de fino veludo italiano, uma pasta de folhas de alface, pepino, catchup e mostarda; no chão, os cacos do pequeno tesouro garimpado pela mãe em uma viagem a Hong Kong.

12 – Que fato traz o rapaz à realidade?
      O som do telefone tocando.

13 – Quem estava telefonando? O que dizia?
      Carla. Dizia que arrancaria o couro dele se ele não tivesse uma boa desculpa para o fato de tê-la deixado esperando na frente do cinema.

14 – Podemos concluir que tudo não passara de...
      ... um sonho.

15 – A que conclusão Archimedes chegou após o telefonema?
      Concluiu que estava em uma enrascada tremenda, destruiu o sofá e a obra de arte da qual a mãe tanto se gabava. E ainda perderia a namorada que não ia acreditar que ele estava em casa lendo, adormeceu e, por isso, não fora ao encontro marcado.


18 comentários:

  1. Obrigado pelas respostas ajudou-me muito 😍😍

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  2. mt obrigado, se n fosse esse site eu teria que pensar ufa kkkkk, me ajudou mt com minha lição atrasada vlw

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  3. Muitooooo muitooooo obrigadaaaa me ajudou bastanteee

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  4. Nossa mano, ajudou muito, muito, muito.🤩

    obrigada!:)

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  5. Muito bom , Tudo que eu precisava.

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