domingo, 27 de maio de 2018

CONTO: CÂNDIDA - ODE MARTINS - COM GABARITO

CONTO: Cândida
       
De nome Cândida, a morena andava sempre saltitando como se tivesse molas nos pés. Sabia que os cachos de seus cabelos negros, saltitavam também. E mais! Sabia o quanto era provocante! Saltitava, ainda, o coração dos moçoilos da pequena vila de pescadores.
Era assim que Cândida andava: saltitando! Êta, moreninha espevitada! Olhar brejeiro, boca...ah! Que boca! Carnuda que só! Parecia que estava sempre pedindo beijo! E olha que não tinha quem não estivesse querendo dar! Os jovens reviravam os olhos e, na calada da noite, Cândida lhes fazia companhia! No pensamento deles é claro! Mas fazia, sim, senhor! Os velhos, estes ficavam satisfeitos de olhar e se lembrar de quando eram moços, contavam aventuras amorosas. Ah, se fossem moços! Essa moreninha não havia de escapar.
        Cândida era moça séria, feita para casar. Filha de Juca Pescador e de dona Iracema sabia ler e sabia escrever! O pai fizera questão de que a filha aprendesse e para isso contou com a ajuda de Isabel, uma prima, que vinha passar as férias na pequena vila.
        Isabel morava na capital e quando vinha, chegava cheia de conversas sobre a cidade grande: aventuras e divertimento!
        Juca não gostava da prosa e alertava a mulher. Dona Iracema dizia que era implicância dele, nada tinha demais nas prosas e era divertido saber um pouco da vida na cidade. Não aprovava a pintura exagerada no rosto e a roupa muito curta e decotada, mas era moça de cidade, tinha outros costumes. Juca se calava, bem ou mal, Isabel fazia bem ensinando as letras para Cândida.
        Cândida sabia o quanto era bonita! Tinha um vestidinho verde, de florzinha bem miudinha, que quase grudava no corpo. E quando batia um ventinho, grudava mesmo e, ainda, levantava um pouquinho! Toda segunda-feira, cedinho, a rapaziada se concentrava embaixo de uma mangueira frondosa que havia em frente ao posto do correio. Era dia em que Candinha mandava carta para a prima da capital. Nas sextas-feiras, a cena se repetia, a moça ia ao posto buscar o que a prima lhe enviava: livros! Perguntada sobre eles, dizia que eram histórias, mas de que nada adiantava mostrar-lhes, não sabiam ler. Mas um dia, ela contaria aquelas histórias!
        – Mulher, tá na hora de ver casamento pra nossa filha. Mathias gosta da nossa menina. É bom moço, trabalhador – dizia Juca Pescador à esposa.
        – Arre! Homem de Deus! Que pressa é essa? Nossa filha é muito menina!
        – Escute o que tô te dizendo, tem fogo nos olhos de nossa filha. Depois dessas encomendas que ela recebe da prima, tem o perigo do nosso lugar ficar pequeno demais pra ela. Você não vê que ela ri dos moços daqui?
        – Te acalma, homem. Quando chegar a hora, ela há de gostar de um deles e se casar.
        – Sei não, sei não!
        Naquele dia chovia tanto que parecia que o mundo ia se acabar em água, feito aquela história do dilúvio. Devia ser por isso que Cândida não tinha aparecido no povoado para botar carta no posto do correio. Na sexta-feira, também não apareceu. E assim aconteceu nas semanas seguintes.
        Zé das Redes, compadre de Juca, a pedido do filho Mathias, apaixonado por Candinha, foi até a casa do amigo que era para ver o que estava acontecendo, pois o companheiro de pesca andava de olhos baixos, tristes. Não trocava palavra com ninguém. A comadre, que judiação! Vertia em lágrimas! A pombinha batera asas e voara para junto da prima.
        Mathias resolveu que devia ir atrás do seu amor e, numa manhã de um dia qualquer, embarcou, cheio de sonhos! Haveria de trazer Candinha de volta!
        Chegando à capital, assustado, tem vontade de voltar, mas não pode. Como ficar lá, na pequena vila, sem a moça que caminhava como se tivesse molas nos pés?
        O rapaz não teve dificuldade em encontrar o lugar em que a prima de Cândida morava. O chofer de táxi lhe dissera que todo mundo sabia onde era. E lá foi Mathias com o coração batendo forte, acelerado como quando levava susto.
        Já era tarde, não era de bom costume chegar à casa de alguém àquelas horas, mas há de entender que chegava de viagem e não sabia para onde ir. 
        O lugar era grande demais! Iluminado demais. Tinha até um sujeito grandalhão na entrada! Devia ser por causa dos assaltos de que Mathias ouvira falar que aconteciam nas cidades.
        Conduzido por outro homem, o jovem viu-se em salão mal iluminado. Dois casais, agarradinhos, dançavam uma melodia chorosa. E um pouco mais adiante, em frente a um balcão, sentada em uma banqueta, com um copo na mão, estava Cândida. Que roupa era aquela que ela usava e que deixava à mostra quase que todo seu corpo? Um velhote aproximou-se e a enlaçou, puxando-a para dançar.
        Mathias afastou-se. Compreendera! Cândida, a sua Cândida, não mais existia. 
                                                                                        Ode Martins.

Entendendo o texto:
01 – Busque no dicionário o significado aplicado, no texto, à palavra " cândida".
      Ingênua, pura, inocente.

02 – Faça a descrição da personagem Cândida nos três primeiros parágrafos do conto.
      Morena, andava sempre saltitando como se tivesse molas nos pés, cabelos negros e cacheados, era provocante, espevitada, olhar brejeiro, boca carnuda, bonita, era moça séria, feita para casar, filha de pescador, sabia ler e escrever.

03 – Que informações o conto dá sobre a personagem Isabel? Essa personagem é importante? Por quê?
      Isabel é prima de Cândida, mora na capital, fala de aventuras e divertimentos, usava maquiagem exagerada e roupas muito curtas e decotadas. Sim, é importante ao contexto do conto porque é responsável pela alfabetização de Cândida e pelas mudanças operadas em sua vida.

04 – Explique o trecho: "Os jovens reviravam os olhos e, na calada da noite, Cândida lhes fazia companhia! No pensamento deles é claro! Mas fazia, sim, senhor!"
      Resposta pessoal do aluno.

05 – O que Juca, pai de Cândida reprovava em Isabel? Por que a reprovação.
      Não gostava das conversas da moça sobre a cidade grande, das aventuras e divertimentos de que falava, também reprovava a modo de vestir e se maquiar da sobrinha. Temia a influência que tais coisas podiam exercer sobre a filha.

06 – O que acontecia nas segundas-feiras e nas sextas-feiras cedinho? Por quê?
      Os rapazes se juntavam embaixo de uma mangueira, em frente ao correio, para ver Cândida, pois, nas segundas-feiras, ela ia mandar carta para a prima da capital e, nas sextas-feiras, ia buscar os livros que a prima lhe mandava.

07 – O que Juca dizia para justificar a pressa em casar a filha?
      Juca dizia que a filha tinha fogo nos olhos e que os livros, que recebia, podiam levá-la a não mais querer ficar na vila por desejar um mundo maior, pois os moços de lá, ela já desprezava, ria deles. Achava que a moça podia se iludir. 

08 – A mãe de Cândida discordava do marido. Quem você acha que estava certo? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Qual parágrafo mostra uma mudança na rotina de Cândida? Comprove sua resposta com um trecho do texto. 
      No décimo segundo parágrafo: "Naquele dia chovia tanto que parecia que o mundo ia se acabar em água, feito aquela história do dilúvio. Devia ser por isso que Cândida não tinha aparecido no povoado para botar carta no posto do correio."

10 – No trecho "...o mundo ia se acabar em água, feito aquela história do dilúvio.", o autor faz alusão a outro texto muito conhecido que se encontra no livro mais conhecido mundialmente; isso se chama intertextualidade. Que livro é esse e a que texto desse livro a autora se refere?
     O livro no qual se encontra o texto, a que a autora se refere, é a Bíblia; o texto bíblico narra o dilúvio que devastou o mundo por obra de Deus, cansado dos pecados humanos.

11 – Quem é Zé das Redes? E por que vai à casa de Juca? O que fica sabendo?
      Zé das Redes é compadre de Juca e vai à casa dele a pedido de seu filho Mathias, apaixonado por Cândida, para saber por que o pai da moça andava tão triste. Descobriu que Cândida fugira para a capital para morar com a prima.

12 – Mathias também viajou. Quando isso aconteceu? Comprove sua resposta. Para onde foi o rapaz?
      O texto não diz quando exatamente isso acontece: "...numa manhã de um dia qualquer, embarcou...". Ele foi para a capital, atrás de Cândida, o seu amor, com a esperança de trazê-la de volta.

13 – Como era o lugar em que a moça estava morando? Podemos inferir que o local era muito conhecido por se tratar de que tipo de lugar? 
      "O lugar era grande demais! Iluminado demais. Tinha até um sujeito grandalhão na entrada!". Era muito conhecido por tratar-se de um prostíbulo.

14 – Em que Cândida se transformara? Em momento Mathias percebe isso?
      Cândida era uma prostituta. Ele se dá conta disso quando entra em um salão pouco iluminado, onde há dois casais dançando agarradinhos e, ali, vê a moça sentada junto ao balcão com um copo de bebida na mão, vestindo uma roupa que pouco lhe cobria o corpo e um velhote se aproxima, enlaça sua cintura e puxa-a para dançar.

15 – Por que Mathias se afastou?
     Porque entendeu no que Cândida havia se transformado, que a moça da vila já não existia.

16 – No mundo real, você julga possíveis os fatos narrados? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.


Um comentário:

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