terça-feira, 8 de maio de 2018

POEMA: O OUTRO BRASIL QUE VEM AI - GILBERTO FREYRE - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Poema: O outro Brasil que vem ai
                                                       Gilberto Freyre


Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados
terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças
terão as cores das profissões e regiões.
As mulheres do Brasil em vez das cores boreais
terão as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil,
todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor
o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco.
Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
vaqueiro
marinheiro
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil
coragem de morrer pelo Brasil
ânimo de viver pelo Brasil
mãos para agir pelo Brasil
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis
mãos de engenheiro que lidem com ingresias e tratores europeus e norte-americanos a serviço do Brasil
mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar).
mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternais de todas as cores
mãos desiguais que trabalham por um Brasil sem Azeredos,
sem Irineus
sem Maurícios de Lacerda.
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de mistificadores.
Mãos todas de trabalhadores,
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistas
de escritores
de operários
de lavradores
de pastores
de mães criando filhos
de pais ensinando meninos
de padres benzendo afilhados
de mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavando
de pedreiros edificando
de doutores curando
de cozinheiras cozinhando
de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas comadres dos homens.
Mãos brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
desse Brasil que vem aí.

                           Poema escrito em 1926 e publicado no livro "Poesia Reunida", Editora Pirata –

                  Recife, 1980, que nos foi enviado pelo escritor Antônio Prata, a quem agradecemos.

Entendendo o Poema:
01 – O título do livro de Gilberto Freyre é O outro Brasil que vem aí. Em sua opinião, o poema do autor passa que visão do Brasil? Explique.
      Resposta pessoal do aluno.

02 – Qual é a ideia do autor sobre o Brasil?
      Ele impressionou o mundo, neste poema descrevendo a outros povos sobre a gente brasileira, rompendo com velhos pensamentos preconceituosos e dando uma aula sobre brasilidade.

03 – Segundo Freyre em seu poema diz que qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil. Quem são estes brasileiros?
      Lenhador – lavrador – pescador – vaqueiro – marinheiro – funileiro – carpinteiro.

04 – Cite os versos, em que o autor defende que a miscigenação das mulheres, associando ao clima tropical.
      “As mulheres do Brasil em vez das cores boreais terão as cores variamente tropicais.”

05 – Marque (X) no item abaixo, em relação à compreensão do poema esteja correta.
a)   O texto é uma apologia ao patriotismo, cujas exigências se baseiam inicialmente no trabalho e no amor à Pátria e a seu povo.
b)   De tom otimista, revela a crença do escritor em um Brasil menos justo e democrático.
c)   Com “Todo brasileiro poderá...”; “Todo brasileiro e não apenas...”, o poema expõe o seu desejo de que a equidade nem sempre supere as desigualdades.
d)   As qualidades necessárias para se chegar à presidência do país deixam de ser a cultura e a cor da pele e passam a ser os valores intrínseco a um cidadão patriota.
e)   Ao se referir aos “Brasis”, Gilberto Freyre não alude às tão diferentes realidades que formam este país.

06 – Autor brasileiro que entendia a construção do Brasil como a fusão de raças, regiões, culturas e grupos sociais decorrentes da formação colonial, em que os negros e mestiços teriam papel fundamental na formação da identidade cultural do povo.

Essa referência identifica:
a)   Gilberto Freyre.
b)   Caio Prado Júnior.
c)   Florestan Fernandes.
d)   Fernando de Azevedo.
e)   Sérgio Buarque de Holanda.

07 – O poema traz que defesa?
      Traz a defesa das singularidades nacionais que estão presentes em seus textos sobre a formação da sociedade brasileira e é uma amostra do dom literário que ele possuía.

08 – Freyre por ter-se dedicado aos estudos sobre a cultura e a sociedade brasileira, o que ele projetava para nossa nação?
      Projetava o desejo de ver o pleno desenvolvimento social, de estar numa terra onde pessoas de todas as origens sociais pudessem ser donas de seus próprios destinos.

09 – As obras de Freyre despertaram ondas de protestos em todas as camadas sociais, devido sua linguagem muitas vezes vulgar, chula. De que ele foi tachado?
      De anticatólico, comunista, anarquista, agitador, antilusitano, africanista, dentre outros alcunhas.

10 – Julgue os itens abaixo, em relação à compreensão e a interpretação do texto.

(V) O texto é uma apologia ao patriotismo, cujas exigências se baseiam inicialmente no trabalho e no amor à prática e a seu povo.

(V) De tom otimista, revela a crença do escritor em um Brasil mais justo e democrático.

(F) Com “Todo brasileiro poderá...” (l. 14), “Todo brasileiro e não apenas...” (l. 15), o poema expõe o seu desejo de que a equidade sempre supere as desigualdade.

(V) As qualidades necessária para se chegar à presidência do país deixam de ser a cultura e a cor da pele e passam a ser os valores intrínsecos a um cidadão patriota.

(F) Ao se referir aos “Brasis” (l.32), Gilberto Freyre alude às tão diferentes realidades que formam este país.

11 – Julgue os itens seguintes, em relação à semântica e a estilística.

(V) A passagem do verso “de outro Brasil que vem aí” (l. 4), para “Desse Brasil que vem aí” (l.71), no quarteto repetido que abre e encerra o poema salienta o desejo de que a mudança esperada esteja em andamento.

(V) O termo “boreais” (l. 12) alude à cor mestiça das mulheres brasileiras.

(F) “Qualquer” (l. 17) tem, no texto, conotação pejorativa.

(V) A ação de cada profissional no seu trabalho é realçada no poema pelas formas pleonásticas e cognatas de verbos no infinitivo (l. 26-27) e no gerúndio (l.40 a 48).

(F) As “mãos” (l. 30, 31, 33 e 50) metonimicamente representam o labor e a solidariedade dos brasileiros.

(V) O termo “sindicais” (l. 66) está associado à consciência de classe dos trabalhadores brasileiros. 




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