sexta-feira, 11 de maio de 2018

CRÔNICA: CHOQUE CULTURAL - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: CHOQUE CULTURAL
               Luís Fernando Veríssimo

        Todos ficaram preocupados quando o Márcio e a Bete começaram a namorar porque cedo ou tarde haveria um choque cultural. Márcio era louco por futebol, Bete só sabia que futebol se jogava com os pés, ou aquilo era basquete? Avisaram a Bete que para acompanhar o Márcio era preciso acompanhar a sua paixão e ela disse que não esquentassem, iria todos os dias com o Márcio ao Beira Mar, se ele quisesse.
        - Beira Rio, Bete...
        Naquele domingo mesmo, Bete estava com Márcio no Beira Rio, pronta para torcer ao seu lado, e quase provocou uma síncope em Márcio quando tirou o casaco do abrigo.
        - O que é isso?! 
        Estava com a camiseta do Grêmio, em marcante contraste com o vermelho que Márcio e todos à sua volta vestiam. Desculpou-se.
        Disse que pensara que se pudesse escolher uma camiseta que combinasse com a roupa e ...
        Está bem, está bem – interrompeu o Márcio. – Agora veste o casaco outra vez.
        - Certo – disse Bete, obedecendo. E em seguida gritou “Inter!”, depois virou-se para o Márcio e disse: - O nosso é o Inter, não é?
        - É, é.
        - Inter! Olha, eu acho que foi gol!
        - O jogo ainda não começou. Os times estão entrando em campo.
        Bete agarrou-se ao braço de Márcio.
        - Você vai me explicar tudo, não vai? Gol de longe também vale três pontos?
        - Não. Vale dois. O que que eu estou dizendo? Vale um.
        Mas Bete não estava mais ouvindo. Estava acompanhando um movimento no gramado com cara de incompreensão.
        - Pensei que em futebol se levasse a bola com o pé.

        - É com o pé.
        - Mas aquele lá está levando embaixo do braço.
        Márcio explicou que aquele era o juiz, e que estava levando a bola embaixo do braço para o centro do campo, onde iniciaria o jogo. Não, os outros dois não estavam ali para evitar que tirassem a bola das mãos do juiz, como no futebol americano. Eles eram os auxiliares do juiz. O que os auxiliares faziam?
        - Bom, quando um dos auxiliares levanta a bandeira, o juiz dá impedimento.
        - E o que o auxiliar faz com o impedimento?
        Márcio suspirou. Foi o primeiro dos 117 suspiros que daria até o namoro acabar duas semanas depois. Explicou:
        - Os auxiliares sinalizam para o juiz que um jogador está em impedimento, isto é, está em posição irregular, impedido de jogar, e o juiz apita.
        - Meu Deus!
        Márcio olhou para Bete. O que fora?
        - O juiz apita?! – perguntou Bete, com os olhos arregalados.
        - É. O juiz sopra um apito. Aquilo que ele tem pendurado no pescoço é um apito.
        - Ah.
        Bete sentiu-se aliviada. Por alguns instantes, a ideia de um homem que apitava, sabia-se lá por que mecanismo insólito, quando lhe acenavam uma bandeira, parecia sintetizar toda a estranheza daquele ambiente em que se metera, por amor. Ele não apitava. Soprava um apito. Era diferente.
        Mas Bete notou, pela cara do Márcio quando ela disse “Ah”, que estava tudo acabado.

                  VERÍSSIMO, L.F. A eterna privação do zagueiro absoluto.
Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.
Entendendo a crônica:
01 – Quem escreveu a crônica Choque cultural?
      Luís Fernando Veríssimo.

02 – Quem seriam os possíveis destinatários deste texto?
      Público em geral.

03 – Que fato deu origem ao texto que você leu?
      Dificuldade de relacionamento.

04 – Qual é o suporte desta crônica?
      Livro.

05 – A crônica é quase sempre um texto curto, com poucas personagens, que se inicia quando os fatos principais da narrativa estão por acontecer. Por essa razão, o tempo e o espaço são limitados. Na crônica “Choque cultural”:
a) Quais são as personagens envolvidas na história?
      Márcio e Beth.

b) Onde acontecem os fatos narrados?
      Em um jogo de futebol.

c) Qual é o tempo de duração desses fatos?
      O tempo de duração do jogo.

06 – Por que Bete dava tantos “foras”?
      Falta de conhecimento sobre futebol.

07 – Releia o trecho do texto: “Márcio suspirou. Foi o primeiro dos 117 suspiros que daria até o namoro acabar duas semanas depois.” Explique a causa de tantos suspiros do personagem Márcio.
      Ele já não suportava responder perguntas sem sentido.

08 – Na crônica, os fatos podem ser narrados por um narrador-observador ou por um narrador-personagem. Qual é o tipo de narrador na crônica lida? Justifique com um trecho do texto.
      Narrador observador – “Todos ficaram preocupados quando o Márcio e a Bete começaram a namorar porque cedo ou tarde haveria um choque cultural”.

09 – Partindo de notícias veiculadas em jornais falados ou escritos ou em situações do dia-a-dia, o cronista pode representá-las com humor, reflexão crítica e sensibilidade.
a) Existe uma relação entre a situação vivida pelas personagens da crônica e a de nosso dia-a-dia? Justifique.
      Resposta pessoal.
b) Que objetivos o autor tem em vista:
( ) Criar humor e divertir.
(x) levar o leitor a refletir criticamente sobre a vida e comportamentos humanos.

10 – Observe a linguagem empregada na crônica em estudo.
a) Os fatos são narrados:
(x) de forma pessoal, subjetiva de acordo com a visão do cronista.
( ) são narrados de forma impessoal, objetiva.
b) Que tipo de variedade linguística é adotado na crônica:
( ) a variedade padrão formal
(x) variedade padrão informal.

11 - Sabendo que a crônica fotografa um momento e a sensibilidade do cronista funciona como um “filtro”, que imprime singularidade ao retrato do fato. Se você tivesse de escolher um sentimento predominante nesta crônica, qual seria ele?
      Resposta pessoal.

12 – Qual é o tema do texto?
      Fala da diferença de gosto entre duas pessoas.

13 – Qual é a relação desse tema com o título? 
      É o gosto e o conhecimento sobre um determinado assunto.

14 – Segundo os amigos, o que Beth deveria fazer para conquistar o namorado?
      Deveria acompanhar a sua paixão.

15 – O que significa a expressão “esquentassem” quando Bete diz para os amigos “que não esquentassem”.
      Que ela iria acompanhar o namorado sempre.

16 – Bete conseguiu atingir o seu propósito de conquistar o Márcio? Por quê?
      Não. Porque não conseguiu aprender nada.

17 – Durante a partida, Bete não “dava uma dentro”. Para você, quais foram os “foras” que a Bete deu.
      Resposta pessoal do aluno.

18 – Use a sua criatividade e crie um diálogo no qual Bete dá um novo fora com relação ao jogo de futebol.
      Resposta pessoal do aluno.

19 – Abaixo existem dois trechos do texto onde aparece a expressão tudo. Explique o que cada um a quer dizer. Em outras palavras: a que essas expressões se referem?
               "- Você vai me explicar tudo, não vai? Gol de longe também vale três pontos?"
      Que era para o Márcio explicar todos os acontecimentos dentro da partida de futebol.    

               "Mas Bete notou, pela cara do Márcio quando ela disse “Ah”, que estava tudo acabado."
      Ela achava que tinha acabado a partida.

20 – Marque a resposta correta. Após a leitura do texto, podemos concluir que:
( ) Bete não tinha conhecimento nenhum sobre futebol e Márcio nem tentou ensinar tudo a ela. Nas entrelinhas pode-se entender que o namoro acabou porque Márcio pensa que conhecimento de mundo só se aprende na escola.
(X) Bete demonstrou boa vontade em aprender tudo sobre futebol. Márcio também estava disposto a ajudar, mas os questionamentos eram tantos que Márcio acabou desistindo do namoro. Faltou à Bete um tipo de conhecimento que se chama conhecimento de mundo.
( ) Para que o namoro desse certo, seria preciso que Bete se esforçasse mais para adquirir um conhecimento sobre futebol, coisa que Márcio não estava nem um pouco a fim de ensinar a ela.

3 comentários:

  1. Obrigado, esse cite me ajudou muito, muito obrigado mesmo!

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  2. As respostas não era as que eu procurava... Mais obrigado à quem respondeu ��

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  3. ótimas questões! Já inclui algumas dessas atividades para os meus alunos. Muito obrigada

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