quarta-feira, 11 de abril de 2018

CRÔNICA: O MELHOR AMIGO - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 CRÔNICA: O MELHOR AMIGO
                      Fernando Sabino



      A mãe estava na sala, costurando. O menino abriu a porta da rua, meio ressabiado, arriscou um passo para dentro e mediu cautelosamente a distância. Como a mãe não se voltasse para vê-lo, deu uma corridinha em direção de seu quarto.
        --- Meu filho? – gritou ela.
        --- O que é – respondeu, com ar mais natural que lhe foi possível.
        --- Que é que você está carregando aí?
        Como podia ter visto alguma coisa, se nem levantara a cabeça? Sentindo-se perdido, tentou ainda ganhar tempo:
        --- Eu? Nada...
        --- Está sim. Você entrou carregando uma coisa.
        Pronto: estava descoberto. Não adiantava negar – o jeito era procurar comovê-la. Veio caminhando desconsolado até a sala, mostrou à mãe o que estava carregando:
        --- Olha aí, mamãe: é um filhote...
        Seus olhos súplices aguardavam a decisão.
        --- Um filhote? Onde é que você arranjou isso?
        --- Achei na rua. Tão bonitinho, não é, mamãe?
        Sabia que não adiantava: ela já chamava o filhote de isso. Insistiu ainda:
        --- Deve estar com fome, olha só a carinha que ele faz.
        --- Trate de levar embora esse cachorro agora mesmo!
        --- Ah, mamãe... – já compondo uma cara de choro.
        --- Tem dez minutos para botar esse bicho na rua. Já disse que não quero animais aqui em casa. Tanta coisa para cuidar, Deus me livre de ainda inventar uma amolação dessas.
        O menino tentou enxugar uma lágrima, não havia lágrima. Voltou para o quarto, emburrado: a gente também não tem nenhum direito nesta casa – pensava. Um dia ainda faço um estrago louco. Meu único amigo, enxotado desta maneira!
        --- Que diabo também, nesta casa tudo é proibido! – gritou, lá do quarto, e ficou esperando a reação da mãe.
        --- Dez minutos – repetiu ela, com firmeza.
        --- Todo mundo tem cachorro, só eu que não tenho.
        --- Você não é todo mundo.
        --- Também, de hoje em diante, eu não estudo mais, não vou mais ao colégio, não faço mais nada.
        --- Veremos – limitou-se a mãe, de novo distraída com a sua costura.
        --- A senhora é ruim mesmo, não tem coração.
        --- Sua alma, sua palma.
        Conhecia bem a mãe, sabia que não haveria apelo: tinha dez minutos para brincar com seu novo amigo, e depois... Ao fim de dez minutos, a voz da mãe, inexorável:
        --- Vamos, chega! Leva esse cachorro embora.
        --- Ah, mamãe, deixa! – choramingou ainda: - Meu melhor amigo, não tenho mais ninguém nesta vida.
        --- E eu? Que bobagem é essa, você não tem sua mãe?
        --- Mãe não é cachorro não é a mesma coisa.
        --- Deixa de conversa: obedece sua mãe.
        Ele saiu, e seus olhos prometiam vingança. A mãe chegou a se preocupar: meninos nessa idade, uma injustiça praticada e eles perdem a cabeça, um recalque, complexos, essa coisa toda...
        Meia hora depois, o menino voltava da rua, radiante:
        --- Pronto, mamãe!
        E lhe exibia uma nota de vinte e uma de dez: havia vendido o seu melhor amigo por trinta dinheiros.
        --- Eu devia ter pedido cinquenta, tenho certeza de que ele dava – murmurou, pensativo.

             Fernando Sabino. “O melhor amigo”. In: Fernando Sabino;
                    Obra reunida. 3. v. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
Entendendo o texto

01 – Quando o menino chegou em casa, o que a mãe estava fazendo?
     Sua mãe estava costurando.

02 – O menino tentou entrar em casa sem que a mãe percebesse. Escreva a frase que justifica essa afirmação.
     “O menino (...) arriscou um passo para dentro e mediu cautelosamente a distância”.

03 – Por que o menino julgou que a mãe não tivesse visto o que ele carregava?
     Porque a mãe não se voltou para vê-lo.

04 – O que o menino procurou fazer quando percebeu que a mãe já descobrira tudo?
     Tentou comovê-la.
05 – Na frase “... Onde é que você arranjou isso”? a palavra em destaque traduz que tipo de sentimento?
     Desprezo.

06 – O que revela o fato de o menino tentar enxugar uma lágrima que não havia?
     Revela que estava tentando sensibilizar a mãe pelo choro.

07 – Diante da contínua negação da mãe, quais os argumentos de que se serve o menino para convencê-la? Cite três frases ditas pelo menino.
     “Que diabo também, nesta casa tudo é proibido”; “Todo mundo tem cachorro, só eu que não tenho”; “Também, de hoje em diante, eu não estudo mais, não vou mais ao colégio, não faço mais nada”.

08 – Mas o menino não desistiu. Mesmo sabendo que a mãe não cederá, ele tenta um último argumento. Qual?
     “Meu melhor amigo, não tenho mais ninguém nesta vida”.

09 – O menino estava revoltado, porque a mãe não permitiria que ele ficasse com o cachorrinho. Quando voltou da rua, estava contente porque vendera o cachorrinho. Como você explica essa mudança repentina do menino?
     Resposta pessoal do aluno.

10 – Quais são os personagens dessa história contada por Fernando Sabino?
     O menino, sua mãe.

11 – Numa narração, os fatos obedecem a uma ordem. Reescreva os fatos do texto de acordo com a disposição dada pelo autor.
     A ordem correta das frases é:
a) O menino tenta chorar para convencer a mãe a deixa-lo ficar com o filhote.
     Quarto.
b) A mãe fica preocupada com o filho, pois este saiu revoltado.
     Sétimo.
     c) O menino chega em casa com um cachorrinho nas mãos.
     Primeiro.
     d) Diante da insistência da mãe, o menino resolve mostrar o filhote.
    Terceiro.
     e) A mãe obriga o filho a levar o cachorro embora.
    Sexto.
      f) O menino volta para casa contente porque vendera o cachorro.
    Oitavo.
     g) O menino vai para o quarto, revoltado com tudo e com todos.
    Quinto.
     h) A mãe percebe a presença do filho.
    Segundo.

12 – O que esse texto significou para você?
     Resposta pessoal do aluno.


18 comentários:

  1. nosaaaaaaaaaa me ajudou muito eu faltei no dia que a prafesora pasou ese texto

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  2. Me ajudou muito, estava precisando disso

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  3. Caraca isso me ajudou bastante muito obrigada

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  4. Nossa esse texto era exatamente oque eu tava precisando
    Pois foi oque minha professora passou e eu perdi o texto!
    Mt top a historia

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  5. No texto meu melhor amigo qual parte mostra o enredo,personagem,gênero pretendido,tempo, espaço e narrador.
    Onde está o discurso direto e indireto e tempos verbais adequados a narração de fatos passados.

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  6. Por que o menino pensou que a mãe não tinha visto o que ele carregava?

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  7. Ao terminar a leitura do texto vc acha o titulo corrreto

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Porq o autor utilizou a expressão a gente

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  10. Depois de ler a crônica destaque do texto os elementos da narrativa letra a tempo: quando ocorreu a história

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  11. Me ajudou bastante,não estava conseguindo responder

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