sexta-feira, 6 de abril de 2018

TEXTO: O CEMITÉRIO DA FORTALEZA DE IF - ALEXANDRE DUMAS - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


TEXTO: O Cemitério da Fortaleza de IF

   Aprisionado injustamente por 15 anos na fortaleza de If, uma prisão em alto-mar, Edmundo Dantes tenta uma fuga desesperada na esperança de sobreviver para se vingar dos seus inimigos.
    Só! Achava-se outra vez só! Outra vez no meio do silêncio, em frente do nada! ... [...]
   A ideia do suicídio, repelida pelo amigo, afastada pela sua presença, veio então erguer-se outra vez como um fantasma ao pé do cadáver de Faria. [...]
   --- Morrer! ... Oh! não, não! – exclamou; -- não valia a pena ter vivido tanto tempo, padecido tanto, para morrer agora! Morrer era bom, quando o resolvi em outro tempo, há muitos anos; mas hoje seria realmente auxiliar muito o meu miserável destino. Não, quero viver; quero lutar até ao fim; quero reconquistar a ventura que me foi roubada. Antes de morrer esquecia-me que tenho de vingar-me dos meus algozes, e talvez, quem sabe? de recompensar alguns amigos. [...]
        Puseram o suposto morto na padiola. Edmundo entesou-se para melhor figurar de defunto. O cortejo, alumiado pelo homem da lanterna, que ia adiante, subiu a escada.
        De súbito, o ar frio e forte da noite banhou o prisioneiro, que logo reconheceu o ventou do nordeste. Foi uma repentina sensação, repassada de angústias e de delícias. [...]
        E logo Dantes sentiu-se atirado para um enorme vácuo, atravessando os ares como um pássaro ferido, caindo, sempre com um terror indescritível que lhe gelava o coração. Embora puxado para baixo por algum objeto que lhe acelerava o rápido voo, pareceu-lhe, contudo, que essa queda durava um século. Por fim, com pavoroso ruído, entrou como uma seta na água gelada, que lhe fez dar um grito, sufocado imediatamente pela imersão.
        Dantes tinha caído ao mar, para o fundo do qual o puxava uma bala de 36 presa aos pés.
        O mar era o cemitério da fortaleza de If. [...]
        Dantes atordoado, quase sufocado, teve, entretanto, a presença de espírito de conter a respiração; e como na mão direita, preparado, como dissemos que estava, para todas as eventualidades, levava a faca, rasgou rapidamente o saco, tirou o braço e depois a cabeça; apesar, porém, dos seus movimentos para levantar a bala, continuou a sentir-se puxado para baixo; então vergou o corpo, procurando a corda que lhe amarrava as pernas, e com um esforço supremo conseguiu cortá-la no momento que se sentia asfixiar. Depois, dando-lhe um pontapé, subiu livre à tona da água, enquanto a bala levava para desconhecidos abismos a serapilheira que ia sendo a sua mortalha.

                     Dumas, Alexandre. O conde de Monte Cristo. Porto:
                             Lello & Irmão, s/d, p. 178-182; p. 183. Fragmento.

Bala: bola de ferro atada a um defunto, para fazer com que o corpo afunde no mar.
Serapilheira: manta.

Entendendo o texto:
01 – Explique que sentimentos dominam Edmundo Dantes no momento em que se encontra diante do cadáver do amigo.
      Dantes é tomado pela solidão e pelo desespero. Ao se ver só, considera a possibilidade de suicidar-se, mas desiste da ideia quando se recorda da vingança que ainda tem de praticar contra os responsáveis pela ruína de sua vida.

02 – Copie no caderno o trecho em que o herói explicita sua missão individual.
      “... Morrer! ... Oh! não, não! – exclamou: – não valia a pena ter vivido tanto tempo, padecido tanto, para morrer agora! Morrer era bom, quando o resolvi em outro tempo, há muitos anos; mas hoje seria realmente auxiliar muito o meu miserável destino. Não, quero viver; quero lutar até ao fim; quero reconquistar a ventura que me foi roubada. Antes de morrer esquecia-me de que tenho de vingar-me dos meus algozes, e talvez, quem sabe, de recompensar alguns amigos”.

     a) Qual é essa missão?
      Dantes quer viver, “lutar até o fim” e reconquistar aquilo que lhe foi roubado: sua “ventura”. Além disso, deseja vingar-se daqueles que o traíram e também recompensar alguns amigos.

     b) De que forma os anseios de Dantes revelam que, diferentemente das epopeias, nessa narrativa o herói apresenta de modo mais claro sua dimensão pessoal e humana?
      Ao afirmar o que deseja viver para lutar, mas também vingar-se de seus inimigos, o herói deixa clara a sua dimensão pessoal: sua missão é recuperar o que lhe foi tirado, mas, principalmente, vingar-se. O fato de mostrar sua franqueza deixando-se dominar por sentimentos negativos (o desejo de vingança) garante a humanidade do herói.

     c) Por que o fato de Dantes desistir de cometer suicídio revela sua dimensão heroica?
      O suicídio seria uma saída fácil demais e jamais poderia ser aceita pelo herói. Como o próprio Dantes afirma, seria ajudar o “destino miserável” que lhe foi reservado. Ao herói, só cabe uma atitude: recusar tal saída e enfrentar as adversidades, superando todos os obstáculos que se apresentarem no seu caminho. Ao fazê-lo, evidencia sua dimensão heroica.

03 – O que há de heroico na fuga de Dantes da fortaleza de If? Explique.
      A fuga de Dantes é espetacular e praticamente milagrosa: depois de ser atirado ao mar, com uma bola de ferro atada aos pés, ele se liberta e vence os perigos do mar. Vemos o herói, aqui, superando a si mesmo e aos elementos da natureza. Toda a cena é cheia de ação e suspense, com a vitória de Dantes sobre todas as dificuldades de uma situação que o coloca próximo da morte.

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