sexta-feira, 13 de abril de 2018

FÁBULA: UM FOGUETE EXTRAORDINÁRIO - OSCAR WILDE - COM GABARITO

Fábula: UM FOGUETE EXTRAORDINÁRIO
              OSCAR WILDE


     Ia casar-se o filho do rei. O país estava em festa. [...] Depois de três dias, celebrou-se o casamento. [...]
  À meia-noite devia começar uma grande exibição de fogos de artifício. [...] Depois que o pirotécnico do rei dispôs tudo, os fogos começaram a conversar:
        - O mundo é mesmo muito bonito – disse um busca-pé. – Olhem aquelas tulipas amarelas. Mesmo que fossem bombas, não seriam tão bonitas. Tive a sorte de ter viajado: as viagens nos ensinam a julgar as coisas com sabedoria.
        - O jardim do rei não é o mundo, seu busca-pé pateta! – replicou um grande fósforo de cor. – Você precisa de três dias para percorrer o mundo.
        - O mundo é o lugar de onde a gente gosta – retrucou uma roda de fogo.
        Discutiram sobre isso algum tempo, até que ouviram uma tosse forte e seca; todos olharam.
        A tosse provinha de um foguete gordo e arrogante, amarrado à ponta de uma vara. Antes de falar, tossia sempre, para chamar a atenção. O foguete tossiu mais uma vez, e começou a falar em tom importante, como se estivesse a ditar suas memórias:
        - Que sorte para o filho do rei! Casou-se no mesmo dia em que vou subir. Os príncipes têm muita sorte.
        - Onde já se viu! – interrompeu o busca-pé.
        - Pensei que fosse justamente o contrário: nós é que vamos ser queimados em homenagem ao príncipe.
        - Este pode ser o teu caso, mas não o meu – replicou o foguete. – Comigo, o caso é diferente: sou um foguete importante, de uma família importante. [...] Imaginem só se alguma coisa me acontece esta noite: que desgraça para todos! O príncipe e a princesa nunca mais seriam felizes! O rei, coitado, morreria de dor. Francamente, quando penso na importância da minha posição, chego a derramar lágrimas.
        - Cuidado para não ficar molhado – comentou o fósforo de cor.
        [...]
        A Lua nasceu, e do palácio chegaram sons de música.
        O príncipe e a princesa abriram o baile. Dançavam tão bem que até as açucenas se ergueram mais para espiá-los. As outras flores marcaram o compasso. Na última pancada da meia-noite, vieram todos para o terraço, e o rei ordenou ao régio pirotécnico:
        - Pode começar.
        O pirotécnico fez uma reverência e encaminhou-se para o fundo do parque, acompanhado de seis ajudantes, levando cada um deles um archote. Foi um espetáculo de fato magnífico.  
        - Ziz! Ziz! – fazia a roda de fogo girando, girando.
        - Bum! Bum! – diziam as bombas.
        Todos fizeram grande sucesso, menos o foguete-de-lágrimas. Estava tão úmido por ter chorado que não conseguia pegar fogo. Seus parentes pobres, aos quais sempre falava com ar desdenhoso, subiram ao céu como belas e imensas flores de ouro, despetaladas em luz. A corte aplaudia e a princesa ria, felicíssima.
        “Acho que estão me reservando para outra grande solenidade”, pensou o foguete. “Só pode ser isso.”  
        E sentiu-se ainda mais orgulhoso do que antes.
        No dia seguinte, os empregados foram desmanchar a plataforma.
        “É uma comitiva que vem falar comigo”, pensou o foguete. “Vou recebê-la com a minha conhecida dignidade.”
        Ergueu o nariz, franziu as sobrancelhas, como se estivesse pensando alguma coisa da maior importância. Mas eles não lhe prestaram qualquer atenção. Só quando já se retiravam, um deles gritou:
        - Foguete ordinário! Foguete ordinário! – disse ele, enquanto girava. - impossível! Foguete extraordinário, foi isto o que o homem disse. Extraordinário e ordinário soam muito parecidos. [...]
        E caiu dentro da lama.
        - Não é confortável aqui - observou- mas acho que me enviaram para uma estação de águas a fim de recuperar minha saúde. Meus nervos estão mesmo meio abalados, e preciso de repouso.
        [...]
        De repente, dois meninos de blusas brancas chegaram trazendo gravetos de lenha e uma chaleira.
        “Devem ter sido enviados pelo rei”, pensou o foguete.
        - Olha este troço aí! - exclamou um dos meninos, retirando o foguete da lama.
        - Este troço! – replicou o foguete. – Devo estar ouvindo muito mal.
        - Coloca isso também na fogueira – disse o outro menino.
        Empilharam os gravetos, puseram o foguete em cima e chegaram-lhe fogo.
        - Ótimo! – bradou o foguete. – Vão lançar-me ao espaço em plena luz do dia, para que todos possam ficar encantados comigo.
        Enquanto se esquentava a água da chaleira, os meninos cochilaram na relva. O foguete, muito úmido, levou tempo para pegar fogo.  
        - Afinal, agora parto para o espaço – gritou ele, todo estivadinho. – Irei até a Lua, além de Marte, além do Sol! Irei tão alto que...
        Chii!Chii!Chii! E o foguete por fim subiu, a bradar:
        - Que delícia! Estou indo para o Cosmo! Que espetáculo!
        Mas ninguém reparou nele.
        Começou então a sentir por dentro um formigamento esquisito.
        “Vou explodir”, pensou. “Vou incendiar o mundo inteiro! Vou dar um estrondo tão fabuloso que ninguém falará de outra coisa durante um ano.”
        E, na verdade, explodiu, pois a pólvora cumpriu o seu dever. Mas, ninguém, ninguém, ouviu o estouro do foguete, nem mesmo os meninos deitados sobre a relva.
        Do foguete só restou a vareta, que caiu na cabeça de um ganso.
        - Deus do céu! – exclamou o ganso. – Começou a chover pedaço de pau.
        - Eu sabia que causava furor – murmurou, ofegante, o foguete-de-lágrimas. E morreu.

WILDE, Oscar. In: O príncipe feliz. Tradução e adaptação de Paulo Mendes Campos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. p. 34-35. (Fragmento)
Glossário:
Pirotécnico: Especialista em fogos de artifício.
Dispôs: Arrumou
Régio: Relativo ao ou próprio rei.
Archote: Facho que se acende com breu para iluminar ao ar livre.
Desdenhoso: Que demonstra desprezo ou orgulho.
Estivadinho: Orgulhoso, cheio de si.
Furor: entusiasmo.
Foguete: engenho pirotécnico que consiste em um tubo de papelão carregado com pólvora, e que, ao se atear fogo ao pavio, ocorre a expulsão de gases por combustão, que o leva para o alto, onde estoura com ruído; fogo do ar, foguete do ar, fogos, rojão.

Entendendo a fábula:
01 – O texto é de Oscar Wilde, um irlandês que, com muito humor, escrevia histórias em que criticava a sociedade de seu tempo. Esse texto faz parte do livro O príncipe feliz, que reúne histórias curtas que o autor escreveu para seus filhos. Nesse texto, o escritor só NÃO faz referência:
A) à inveja.
B) à vaidade.
C) à arrogância.
D) ao orgulho.
02 – O foguete interrompe a discussão dos fogos sobre o mundo para:
A) expressar sua opinião sobre o mundo.
B) falar a respeito de si mesmo.
C) comentar a cerimônia de casamento.
D) criticar o busca-pé.

03 – De acordo com o texto, NÃO se pode afirmar que:
A) as lágrimas do foguete atrapalharam sua apresentação.
B) os fogos conversaram a respeito do que pensavam sobre o mundo.
C) aquecido pela fogueira, o foguete explode e é enviado para uma estação de águas.
D) o foguete foi chamado de “ordinário” e de “troço”.

04 – No trecho “Meus nervos estão mesmo meio abalados, e preciso de repouso”, o adjetivo em destaque informa que o foguete encontrava-se:
A)  Irritado.
B) emocionado.
C) espantado.
D) tímido.

05 – Em uma narrativa, a oposição, a luta, o desequilíbrio entre duas forças ou personagens chamasse conflito. O principal conflito da história, na qual está envolvido o foguete é:
A) o desejo de ser o centro das atenções e o fato de isso não ocorrer.
B) a desejo de brilhar em uma festa de casamento ou em uma outra.
C) o desejo de fazer sucesso e o fato de ter de dividir sua atenção com seus parentes pobres.
D) o desejo de agradar ao rei ou aos convidados.

06 – Na passagem “- Coloca isso também na fogueira”, a palavra em destaque refere-se
A) ao ganso.
B) aos gravetos de lenha.
C) a uma vareta.
D) ao foguete.

07 – Na frase “A Lua nasceu, e do palácio chegaram sons de música”, os verbos destacado são empregados no pretérito, porque os fatos aconteceram
A) no mesmo momento em que foram narrados.
B) antes de serem narrados.
C) muito tempo depois de serem narrados.
D) algum tempo depois de serem narrados.

08 – Releia: “Chii! Chii! Chii! E o foguete por fim subiu (...)”. No texto, foi empregada a expressão sublinhada para
A) repetir o ruído da explosão do foguete.
B) indicar a temperatura do foguete.
C) demonstrar o espanto do foguete.
D) reproduzir o ruído da queima do foguete.

09 – No trecho “- Deus do céu! – exclamou o ganso. – Começou a chover pedaço de pau”, o sinal de exclamação foi utilizado para exprimir
A) revolta.
B) piedade.
C) súplica.
D) espanto.

10. Identifique a alternativa em que todas as palavras foram acentuadas graficamente pelo mesmo motivo.
A) ótimo, pólvora, ninguém
B) úmido, busca-pé, lágrimas
C) impossível, aí, felicíssima
D) memórias, contrário, delícia

Entendendo a tira:
01 – No último quadrinho, o humor é provocado, principalmente,
A) pela interpretação dada à ausência de resposta.
B) pela alegria da Mônica.
C) pela curiosidade da menina.
D) pela preguiça de aguardar uma resposta.
02 – Na frase “Há alguém mais bonitinha do que eu”, a palavra destacada
I.             Possui dígrafo.
II.           Não contém encontro consonantal.
III.          É polissílaba.
IV.         Contém ditongo.

Estão CORRETAS apenas as afirmativas
A) I, II
B) II, III
C) I, II, III
D) II, III, IV

03 – Pode-se afirmar que o objetivo, principal, do texto em estudo é:
A) defender uma opinião.
B) avaliar um comportamento.
C) criticar a falsidade.
D) promover o humor.

04 – De acordo com o texto, a Mônica é uma menina:
A) egoísta.
B) persistente.
C) insegura.
D) vaidosa.


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