sábado, 17 de março de 2018

TEXTO: A SUCURI - PEREGRINO JÚNIOR - COM GABARITO

Texto: A SUCURI


    Quando fui ao barracão para a quinzena, seu João Antônio ficou satisfeito com a minha produção.
     - Inverno está chegando! Vamos aproveitar o dia de sol pra uma caçada?
  Concordei. Munimos as cartucheiras. Botamos o terçado no quarto e o rifle nas costas; pulamos pra montaria e subimos o rio – remando os dois com talento – em busca do furo que levava à bocaina do Igapó Água Preta.
        --- Caboclos andam assustados... e seringueiros da beira deixaram de pescar.
        --- Por quê?
        --- Coisa de cobra-grande.
        --- O senhor acredita, seu João Antônio?
        --- Por que não? No território de Guaporé foi morta a metralhadora uma sucuriju de trinta metros de comprimentos.
        --- Já ouvi falar.
        --- E no lago Macuricana, no Alto Amazonas, no lago Grande do Sol, no Distrito de Óbitos, também foram vistas cobras-grandes de mais de trinta metros de tamanho!
        --- Mas a maior parte desses casos são lendas. Conheço meia dúzia de variedades de lendas da cobra-grande.
        --- Ver, o senhor nunca viu?
        --- Não vi não.
        --- Pois ainda há de ver.
        A montaria, a certa altura, bateu num grosso tronco de árvore, e quase vira e alaga... Seu João Antônio mergulha, ágil, a mão no rio, para ver que tronco era aquele – e o tronco se mexeu embaixo da montaria, lento pesado, indiferente.
        Ele não teve dúvida: pulou na água e montou no tronco mole, frio e pegajoso, que deslizava lerdo entre suas pernas. De repente, a sucuri alçou o lombo, levantou a cabeça, procurou envolve-lo com a cauda. João Antônio tratou de sacar o terçado, para defender-se, mas com os movimentos do bicho perdeu o equilíbrio e caiu dentro da água.
        A sucuri enrolou-se nele com força e lhe tolheu a ação dos braços. Homem frio, que igual à força só tinha a coragem, seu João Antônio tentou dominar a cobra com as pernas. A água não lhe permitia firmeza para a manobra. Vi o homem morto, e a sucuri enrolada nele, apertando-o, como quem queria quebrar-lhe os ossos.
        Corri a bala na agulha do rifle – eu sempre tive boa pontaria – e atirei bem na cabeça da cobra. Se errasse, matava seu João Antônio. Mas não errei: acertei no olho da bicha. E foi como se eu não tivesse atirado: ela não deu confiança. Dei-lhe mais cinco tiros. E, depois, para arrematar, remei para peto, e de terçado, fustiguei-a com vontade, até ela soltar o homem.
        Seu João Antônio, desvencilhando-se da cobra-grande, nadou tranquilamente para a montaria como se nada tivesse sucedido com ele.
        --- Se você não tivesse aqui, eu dava conta dela sozinho, disse ele. Já estava com o terçado na mão esquerda pra corta-la pelo meio.
        Rebocamos a sucuri para a beira do lago: tinha doze metros de comprimento!
                                        Peregrino Júnior. A Mata Submersa Outras
                                               Histórias da Amazônia. págs. 314-315.
                                                        Editora José Olympio, Rio, 1960.

Entendendo o texto:
01 – Em que lugar do Brasil aconteceu o episódio narrado no texto?
      Na Amazônia.

02 – As duas palavras que melhor caracterizam esse lugar são:
      (   ) Barracão.           (   ) Rio.           (X) Seringueiro.
      (X) Igapó.                 (   ) Cabolo.

03 – O personagem narrador da história é:
      (   ) João Antônio.
      (X)  O companheiro de João Antônio.
      (   ) Peregrino Júnior.

04 – O companheiro de João Antônio:
      (   ) Acreditava na cobra-grande.
      (   ) Não acreditava na existência da cobra-grande.
      (X)  Duvidava se existia a cobra-grande.

05 – Que “tronco de árvore” era aquele de que se fala na linha 25?
      Era a sucuri.

06 – Assinale o que o narrador quis dizer com a frase:
      “Vi o homem morto”
      (   ) Notei que João Antônio tinha morrido.
      (   ) O homem não se mexia mais,, parecia morto.
      (X)  Eu já o considerava morto, tão certo estava de que a cobra o mataria.

07 – Na luta com a sucuri, João Antônio demonstrou ser um homem:
      (   ) Fraco e mole.
      (   ) Afobado e nervoso.
      (X)  Calmo, frio e corajoso.
      (   ) Desajeitado e desprevenido.

08 – Na linha 41, os travessões foram usados para:
      (X)  Isolar uma explicação estranha ao período, uma observação à parte.
      (   ) Indicar mudança de interlocutor, no diálogo.
      (   ) Indicar início da fala do personagem.



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