domingo, 4 de março de 2018

CRÔNICA: BANHOS DE MAR - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

CRÔNICA: BANHOS DE MAR
                  CLARICE LISPECTOR


        Meu pai acreditava que todos os anos se devia fazer uma cura de banhos de mar. E nunca fui tão feliz quanto naquelas temporadas de banhos em Olinda.
        Meu pai também acreditava que o banho de mar salutar era o tomado antes do sol nascer. Como explicar o que eu sentia de presente inaudito em sair de casa de madrugada e pegar o bonde vazio que nos levaria para Olinda, ainda na escuridão?
        De noite eu ia dormir, mas o coração se mantinha acordado, em expectativa. E de puro alvoroço, eu acordava às quatro e pouco da madrugada e despertava o resto da família. Vestíamos depressa e saíamos em jejum. Porque meu pai acreditava que assim devia ser: em jejum. (...)
        Eu não sei da infância alheia. Mas essa viagem diária me tornava uma criança completa de alegria. E me serviu como promessa de felicidade para o futuro. Minha capacidade de ser feliz se revelava. Eu me agarrava, dentro de uma infância muito feliz, a essa ilha encantada que era a viagem diária.

        O mar de Olinda era muito perigoso. Davam-se alguns passos em um fundo raso e de repente caía-se num fundo de dois metros, calculo.
        Outras pessoas também acreditavam em tomar banho de mar quando o sol nascia. Havia um salva-vidas que, por uma ninharia de dinheiro, levava as senhoras para o banho: abria os dois braços, e as senhoras agarravam-se a eles para lutar contra as ondas fortíssimas do mar.
        O cheiro do mar me invadia e me embriagava. As algas boiavam. Oh, bem sei que não estou transmitindo o que significavam como vida pura esses banhos em jejum, com o sol se levantando pálido ainda no horizonte. Bem sei que estou tão emocionada que não consigo escrever. O mar de Olinda era muito iodado e salgado. E eu fazia o que no futuro sempre iria fazer: com as mãos em concha, eu as mergulhava nas águas e trazia um pouco de mar até minha boca: eu bebia diariamente o mar, de tal modo queria me unir a ele.
        Não demorávamos muito. O sol já se levantara todo, e meu pai tinha que trabalhar cedo. Mudávamos de roupa nas cabinas, e a roupa ficava impregnada de sal. Meus cabelos salgados me colavam na cabeça.
        Então esperávamos, ao vento, a vinda do bonde para Recife. No bonde a brisa ia secando meus cabelos duros de sal.
        A quem devo pedir que na minha vida se repita a felicidade? Como sentir com a frescura da inocência o sol vermelho se levantar? Nunca mais?
        Nunca mais. Nunca.

                                         Clarice Lispector. A descoberta do Mundo.
                              Págs. 249-251. Editora Nova fronteira, Rio, 1984.

Entendendo o texto:
01 – Para o pai da autora os banhos de mar eram uma forma de fazer ou uma terapia (tratamento de doenças)?
      Para eles os banhos de mar eram uma terapia.

02 – Segundo ele, quais as duas condições para que o banho de mar fosse bom para a saúde?
      Devia ser tomado em jejum e antes do sol nascer.

03 – No texto, a autora dá maior destaque:
      (   ) Ao prazer físico que os banhos de mar lhe davam.
      (X)  À grande alegria e felicidade que as temporadas de banhos de mar lhe proporcionavam.
      (   ) À animação e alegria dos banhistas na praia.

04 – Aponte as afirmativas que estão de acordo com o texto.
Para a menina Clarice Lispector (que morava em Recife), a viagem diária às praias de Olinda era:
      (X) Um presente extraordinário.
      (  ) A melhor maneira de passar as férias.
      (X) Uma promessa, um sinal de felicidade futura.
     (X) Uma ilha encantada, onde esquecia as amarguras de menina pobre.

05 – Releia o quarto parágrafo e diga se a infância da autora, na época, era feliz ou infeliz.
      A infância da autora, na época, era muito infeliz.

06 – Ao relembrar aqueles momentos felizes de sua infância, a autora sente-se:
      (   ) Triste.         (   ) Desanimada.      (X) Emocionada.

07 – Cite a frase em que a autora fala do encantamento, do enlevo que ela sentia no contato com o mar.
      O cheiro do mar me invadia e me embriagava.

08 – A autora interrompe frequentemente a sua narrativa para fazer comentários, falar de si mesma, expor seus sentimentos. Comprove isso com frases do texto.
       E nunca fui tão feliz quanto naquelas temporadas de banhos em Olinda.
      Oh, bem sei que não estou transmitindo o que significavam como vida pura esses banhos em jejum.


15 comentários:

  1. Banho de mar que imagens a narradora utiliza para representar essa transformação

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  2. Eu queria frases afirmativas,interogativas é exclativas dotexto

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  3. Respostas
    1. Tomar banho de mar antes do sol nascer

      Sair para tomar banho de mar em jejum

      Acho que e isso pelo oque eu li 🤔🤔🤔
      Tomara que eu tenha ajudado 😆😆😆😃

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  4. Porque a família acostumava ir na aquelas praias

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  5. Qual era o fato marcante destacados pela narradora no seu relato

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  6. Quando ela foi para a praia kkkkkkkkkkkkkkkkk

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  7. "A quem devo pedir que na minha vida se repita a felicidade? Como sentir com a frescura da inocência o sol vermelho se levantar?"

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  8. não entendi nada o que voce disse aí

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  9. Gostei muito do Blog. Estava procurando a Crônica Banho de Mar de Clarice e encontrei aqui.

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  10. Muito obrigado me ajudou dms obrigadoooooo

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  11. COMO VOU ESCREVER ESTE CONTO DE FORMA NARRATIVA? ALGUÉM ME AJUDA

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