quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: O MUNDO PARA TODOS - CRISTOVAM BUARQUE - COM GABARITO

 TEXTO: O MUNDO PARA TODOS


    Durante debate recente, nos Estados Unidos, fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro.

           Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como ponto de partida para uma resposta minha. De fato, como brasileiro, eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre   a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
           Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da humanidade. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
           Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
          Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos Estados Unidos. Por isso eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
         Se os Estados Unidos querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos Estados Unidos. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
        Nos debates, os atuais candidatos  à  presidência  dos Estados Unidos têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidades de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.
        Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.

Cristovam Buarque- O Globo, Rio de Janeiro, 23 out.2000.

ESTUDO DO TEXTO
1)Quando o jovem que fez a pergunta determinou que queria a resposta de um humanista e não de um brasileiro, o que você imagina que ele esperava ouvir?
 Que o autor defende-se a Amazônia como patrimônio nosso.

2)Cristovam Buarque, em seu contra-argumento incorpora a tese defendida por um humanista. Qual a sua intenção ao adotar essa estratégia?
Sua intenção é de internacionalizar todos os patrimônio histórico como mundial.

3)  Na sua opinião, a resposta de Cristovam Buarque foi convincente? Justifique.
Resposta pessoal.
  
4)Seguindo o raciocínio desenvolvido no texto, que outros patrimônios você acha que o autor poderia ter citado? Justifique.

Parques Nacionais, Cidades Históricas, Ilhas.  Por serem patrimônio históricos.

5) Na sua opinião, qual a relação do título O Mundo para Todos com a argumentação que o autor usou no texto?
Resposta pessoal.




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