quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

TEXTO: AGÁ DOIS Ó - MANOEL F.SOUZA NETO - COM GABARITO

Texto: Agá dois ó

        A água é uma coisa líquida que vive de passear. A gente pode às vezes até não perceber, mas ela está em todos os lugares onde estamos. Às vezes é tão leve que se mistura com o ar e forma nuvens de mar. Às vezes é pesada como uma montanha, mas ainda assim brinca de flutuar sobre o oceano e fica lá, boiando, boiando, até se desmanchar.
        A água, já descobriram alguns cientistas, é o feminino de agá dois ó, sendo que sua forma singular é conhecida como gota; no plural ela se pronuncia como um monte de pingos que misturados podem formar um rio doce ou um mar salgado; depende do gosto do freguês ou da onda da maré.
        A água vive de mudar de estado: evapora hoje. Chove amanhã, na semana que vem tá fria feito gelo, depois se derrete. Adora ficar indo e voltando, fazendo estripulia de menina sapeca. Tem dias que gosta de ser aquela nuvem que encobre o sol, em outros deseja descansar sobre a copa das árvores para pegar um bronze legal.
        A água tem momentos de grandes recolhimento, quando penetrando a terra se esconde entre os espaços deixados pelos grãos de areia e fica ali quieta, depois aflora em alguma fonte e aparece como um riachinho tranquilo, ai vai crescendo de tamanho e só quando tem que se abraçar com os braços do grande oceano.
        A água não guarda nenhuma mágoa, não tem certos preconceitos e cabe em qualquer lugar. Está no nosso corpo também numa cor que é vermelha por fazer parte do sangue, mas prefere ser chamada de inodora, insípida e incolor. Suas três propriedades mais propagadas e apagadas são fruto da sua timidez de aparecer como uma das mais importantes substâncias da vida.
        A água adora circular pela terra, sobe de um jeito e já desce outra, e vive assim de mudar as cores de sua roupa. Seu mais belo vestido é feito de sete matizes de um mesmo colorido, uma grande lição de arco-íris para o mundo, onde o que mais importa é poder propor aos homens uma aliança de amor em vez de potes de ouro.
        Enredada em seus segredos, a água é mística, lava-nos de nossa tristeza quando por vezes choramos. Em lágrimas vertidas a sua chama nos purifica, nos adormece o sofrimento nos ressuscita para a maravilhosa aventura da vida.
        A água está sempre por aí circulando o planeta no seu louco automóvel – um tal de ciclo hidrológico – evaporando gasosa, precipitando líquida ou sólida, parando no ar pela intercepção infiltrando, ressurgindo, escoando às vezes um tanto superficialmente, e assim vai se remexendo toda e construindo o seu show natural – ou você nunca ouviu o rock do teto molhado, com trovão na bateria e a chuva sobre as teclas do telhado?
        A água está sofrendo de uma doença que parece incurável e [...] uma epidemia. Suja e maltrapilha ela está a cada dia menos límpida, menos potável, menos leve, menos sadia, menos corredia, menos viva no seu jeitão descontraído. Em algumas poças ela estagnou como se houvesse sofrido uma paralisia; em certos lagos se tornou escura; noutros ficou escassa e, pior ainda, parece que o grande problema advém do fato de estar sendo envenenada.
        O planeta Terra, visto de cima, lá do espaço, é uma enorme bola azul feita de água. Muitos dizem que viemos do pó e ao pó voltaremos; na verdade a vida inteira de todos os seres veio da água, nasceu as profundezas desse líquido maravilhoso. A nave azulada está à deriva, entre as bordas de duas calotas sofre os efeitos da grande estufa, e ameaça inundar o mundo. Apesar de tudo, parece que ainda nos salvaremos, e como fênix, em vez de renascer das cinzas, haveremos de renascer... no berço das águas.

         Manoel Fernandes de Souza Neto. Aula de geografia e algumas crônicas.
                                              Campina Grande: Bagagem, 2003

Interpretação do texto:

01 – A crônica que você leu fala da água. Para representar os elementos naturais, como chumbo, água, ferro e outros, são usados letras e números. A água é representada pela fórmula H2O. Observe o título e diga o que ele tem a ver com a fórmula H2O.
      Resposta pessoal. Sugestão: O título está escrito como se fala.

02 – Que outro título você daria para a crônica? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – A crônica “Agá dois ó” expõe características da água em cada parágrafo. Conte quantos parágrafos tem a crônica. Lembre-se de que o início de cada parágrafo é marcado pelo espaço deixado à esquerda. Faça uma lista como essa em seu caderno e enumere-a de acordo com o número do parágrafo correspondente do texto. Veja o exemplo a seguir:
      A crônica possui 10 parágrafos.
3° parágrafo      -      Comenta sobre as mudanças de estado da água.
9° parágrafo      -      Descreve o mau uso da água.
5° parágrafo      -      Associa a água com o surgimento da vida.
7° parágrafo      -      Descreve de forma poética o ciclo da vida.

04 – Que trechos da crônica encontram-se relacionados ao esquema, visto anteriormente, sobre o caminho das águas na natureza? Qual seria a ideia principal de cada um dos parágrafos a seguir 1, 6 e 10?
      O caminho das águas, está no 8° parágrafo.
      No 1° parágrafo: fala dos três estados em que pode-se encontrar a água.
      No 6° parágrafo: Nós podemos encontrar a água em várias cores, deixando de ser inodora, insípida e incolor.
      No 10° parágrafo: revela a importância da água na vida dos seres, desde o nascimento até a morte.

05 – No texto, encontramos algumas palavras, conforme abaixo, explique.
a)   Por que o autor falou em “potes de ouro” no 6° parágrafo, logo depois de ter falado em “arco-íris”?
--- “Arco-íris”: representa as cores que encontramos as águas.
--- “Potes de ouro”: é a riqueza que a água proporciona em nossa vida.

b)   “Muitos dizem que viemos do pó e ao pó voltaremos”. Você já ouviu essa expressão? Em que local? Você sabe onde surgiu a expressão?

Resposta pessoal do aluno.

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