sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

POEMA: LIRA XIX - TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA - COM GABARITO


POEMA: LIRA XIX
                Tomás Antônio Gonzaga

        Preso, o eu lírico encontra conforto no seu amor por Marília e nas lembranças que guarda da amada.

Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marília, adoro
A tua formosura.
Amor a minha ideia te retrata;
Busca, extremoso, que eu assim resista

À dor imensa, que me cerca e mata.
Quando em meu mal pondero,
Então mais vivamente te diviso:
Vejo o teu rosto e escuto
A tua voz e riso.
Movo ligeiro para o vulto os passos:
Eu beijo a tíbia luz em vez de face,
E aperto sobre o peito em vão os braços.

Conheço a ilusão minha;
A violência da mágoa não suporto;
Foge-me a vista e caio
Não sei se vivo ou morto.
Enternece-se Amor de estrago tanto;
Reclina-me no peito, e com mão terna
Me limpa os olhos do salgado pranto.

Depois que represento
Por largo espaço a imagem de um defunto,
Movo os membros, suspiro,
E onde estou pergunto.
Conheço então que Amor me tem consigo;
Ergo a cabeça, que inda mal sustento,
E com doente voz assim lhe digo:

Se queres ser piedoso,
Procura o sítio em que Marília mora,
Pinta-lhe o meu estrago,
E vê, Amor, se chora.
Uma delas me traze sobre as penas,
E para alívio meu só isto basta.
                   Gonzaga, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. In: Proença Filho, Domício (Org.).
                   A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Aguilar, 1996. p. 651-652. (Fragmento).

Interpretação do texto:
01 – Qual é o assunto desenvolvido na lira apresentada?
      O eu lírico, deprimido com a sua prisão, diz à sua amada que encontra forças para resistir ao sofrimento no amor que nutre por ela e na ilusão de contemplar sua figura.

a)   As situações poéticas apresentadas em Marília de Dirceu guardam estreita relação com episódios da vida de Tomás Antônio Gonzaga. Que semelhança existe entre a situação em que se encontra o pastor Dirceu e a vida do poeta?
O eu lírico encontra-se numa masmorra. O poeta, na vida real, foi preso logo após a inconfidência Mineira, da qual foi um dos integrantes, e escreve parte das liras no cárcere. Por isso, a relação entre a situação poética de Dirceu e os episódios vividos pelo poeta.

02 – Quais são os dois interlocutores a quem o eu lírico se dirige no poema?
      O primeiro interlocutor definido é a amada do poeta, Marília. O segundo é o Amor, que aparece personificado.

a)   O que ele diz a cada um deles?
A Marília, o eu lírico relata o sofrimento pela distância que se impôs entre eles em razão da prisão e como a imagem da amada, ainda que ilusória, o reconforta. Ao Amor, o eu lírico faz um apelo: que ele vá até sua amada e veja se ela está triste, pois, se isso acontecer, será um consolo para ele.

b)   Explique de que maneira o diálogo estabelecido com esses interlocutores indica a retomada de características da poesia de Camões.
Quando o eu lírico dirige-se à sua amada para tratar do sofrimento amoroso em razão do distanciamento entre eles, recupera um dos grandes temas clássicos desenvolvidos na poesia camoniana. A personificação do Amor, figura mitológica a quem o eu lírico faz seu apelo, é outro elemento que marca a retomada dos antigos poetas clássicos nos quais Camões se inspirava.

03 Releia.
        “Busca, extremoso, que eu assim resista
         À dor imensa, que me cerca e mata.
         [...]
         A violência da mágoa não suporto;”
a)   O que esses versos sugerem sobre o estado de espírito do eu lírico?
Esses versos mostram o eu lírico angustiado, triste, deprimido em razão do sofrimento que vive por estar preso e distante de sua amada.

b)   Os sentimentos expressos condizem com as características normalmente encontradas na poesia árcade? Por quê?
Não. A referência “à dor imensa”, “à violência da mágoa” (que o eu lírico não suporta) indicam um “exagero na apresentação dos sentimentos que é pouco comum entre os árcades.

c)   Que outros elementos apresentados no poema rompem com o convencionalismo árcade? Explique.
Além da manifestação “mais real” dos sentimentos do eu lírico, o que se evidencia como rompimento com característica do Arcadismo é o cenário: Dirceu não se encontra em uma paisagem tipicamente árcade, caracterizada como um lugar agradável (o locus amoenus), mas em uma masmorra lúgubre, muito diferente da natureza perfeita típica do Arcadismo.

04 Observe a linguagem utilizada no poema. Que elementos caracterizam a simplicidade formal pretendida pelos poetas árcades?
      É possível identificar a busca pela simplicidade formal pelo uso de uma linguagem mais clara, com um vocabulário mais simples e sem rebuscamento. Não há, no poema, metáforas complexas que dificultem a compreensão do que é dito.

05 – Esse texto foi escrito no período em que Gonzaga esteve preso por seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Observe que, logo nos primeiros versos, o eu lírico expressa seu estado de espírito. Ele se vê como um “semivivo corpo” e a masmorra é sua “sepultura”. De onde vem a força capaz de fazê-lo suportar tanto sofrimento?
      A lembrança de Marília é a força que o mantém vivo.

06 – Na segunda estrofe, o eu lírico:
a)   Confessa que a saudade de Marília leva-o a meditar no mal que fez.
b)   Sente que Marília foge dele, evitando seus beijos e abraços.
c)   Revela que sente tanta saudade de Marília que parece vê-la nitidamente.
d)   Reconhece que se enganou com Marília, pois o que parecia amor, na verdade, não passava de ilusão.

07 – Na terceira e quarta estrofes:
a)    A ilusão do eu lírico é tão intensa que ele imagina sentir as mãos de Marília a enxugar-lhe o pranto.
b)   A dor da desilusão amorosa por Marília causa violenta mágoa no eu lírico.
c)   O eu lírico imagina que Marília está com ele na cela, confortando-o ternamente.
d)   Ocorre a personificação do Amor, que ampara e conforta o eu lírico.

08 – Na última estrofe, o eu lírico pede ao Amor que conte a Marília o seu sofrimento. Se ela chorar:
a)   Ele ficará aliviado porque será uma prova de que ela está arrependida de tê-lo feito sofrer.
b)   Ele se sentirá melhor, porque sabe que a dor a arrastará até ele.
c)   Ele sentirá alívio de seus males, porque saberá que ela o ama e sofre com sua ausência.

d)   Ele se sentirá mal, porque isso só aumentará suas penas de amor.  

8 comentários:

  1. muito obrigado, me ajudou demais :)

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  2. que tema neoclássico podemos identificar nos quatros primeiros versos da segunda estrofe da lira xxxiv?

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  3. que tema neoclássico podemos identificar nos quatros primeiros versos da segunda estrofe da lira xxxiv?

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  4. Nossa não sei como posso agradecer, você é o cara mano.

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  5. Vlw msm ai, quem tá falando aqui é jaya aluuck vlw man

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