segunda-feira, 2 de outubro de 2017

ARTIGO DE OPINIÃO: APAIXONAR-SE É BOM, MAS É ESTRESSANTE - AILTON AMÉLIO DA SILVA - COM GABARITO

APAIXONAR-SE É BOM, MAS É ESTRESSANTE

       “Amor à vista!” As turbulências de um marinheiro de
        primeira viagem no mundo dos relacionamentos.

        Qual foi a época mais feliz na sua vida? Se você pudesse escolher, que idade teria de novo? Se você tem, digamos, mais de 30 anos, provavelmente já ouviu essas perguntas muitas vezes. As respostas variam. Muitas pessoas voltar à época da faculdade, outras voltariam infância, outras ao início do casamento, e assim por diante. No entanto, raramente ouvimos a resposta: “Voltaria à minha adolescência”.
        Por que pouca gente gostaria de voltar à adolescência? À primeira vista, existe muita coisa boa nessa época: não temos de ganhar a vida, nossos pais estão vivos, temos roupa lavada e comida de graça. É, também, a época da descoberta do amor. Paradoxalmente, esse é um dos motivos pelos quais ninguém quer voltar à adolescência. A iniciação na vida amorosa geralmente é muito tensa, muito intensa, muito turbulenta, muito permeada de gozos e agruras. Antes, na infância, o amor era algo que apenas víamos na TV, entre os mais velhos e, com um pouco de sorte, entre nossos pais. Agora, na adolescência, o amor está acontecendo com os amigos mais próximos e (que espanto!) conosco. Aquelas pessoas horrorosas de sexo oposto de repente estão se tornando suportáveis... admissíveis... interessantes... altamente interessantes... imprescindíveis!!! Em todos os locais que frequento existem vários possíveis parceiros amorosos na mesma situação que eu: com os hormônios sexuais transbordando, disponíveis e muito dispostos a se envolver amorosamente. Os meus pares já estão namorando, a mídia, as músicas, os livros, o zunzum que ouço, tudo proclama as maravilhas de um relacionamento amoroso. Preciso arranjar um! Puxa, como seria bom ficar com aquela pessoa! Faria qualquer coisa para dar um beijo nela! Quem sou eu? Qual meu cacife para atrair aquele ser tão interessante?
        É aí que começam as agruras amorosas. Geralmente, aquelas pessoas que são mais atraentes para mim também o são para todos os meus colegas. Assim sendo, poucos de nós seremos bem-sucedidos (é a velha questão da relação entre oferta e procura). O pior de tudo é que aquela pessoa que parecia estar interessada em mim, parecia estar me paquerando, me rejeitou. Apaixonei-me e, quando tentei ficar com ela, levei um fora. O que agrava esse quadro é que ele é recorrente: a todo momento estou novamente me interessando por uma nova pessoa e toda a história se repete. “Como é bom e como é sofrido!!”, confessou a esse respeito uma adolescente que participou de uma pesquisa que fiz sobre o assunto. Se sou tímida a coisa piora de vez. Não consigo “ficar” ou namorar. Perto da pessoa amada baixa uma bobeira. Fico tenso. Não consigo falar coisas inteligentes, dá um branco, faço coisas idiotas para atrair sua atenção, o meu charme me abandona. A timidez é extremamente frequente entre os adolescentes. [...] É estressante. É solitário. Mas é inevitável. Como escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade, amar se aprende amando. A notícia boa é que a adolescência acaba um dia. A ruim é que esse aprendizado dura a vida inteira.

           Ailton Amélio da Silva. Veja Jovens, edição especial da Veja.
                                                           Ano 34, n. 38, set. 2001. p. 87.

1 – Segundo o autor, por que a maioria das pessoas não gostaria de voltar à época da adolescência? Você concorda com os argumentos apresentados por ele?
      Porque é na adolescência que se dá a iniciação amorosa. São muitas as dúvidas, as ansiedades, as decepções ocorrem a todo momento. Resposta pessoal do aluno.

2 – Os seguintes trechos desse texto se aplicam à personagem Brás Cubas? De que maneira?
a)   “A iniciação da vida amorosa geralmente é muito tensa, muito intensa, muito turbulenta, muito permeada de gozos e agruras.”
b)   “Puxa, como seria bom ficar com aquela pessoa! Faria qualquer coisa para dar um beijo nela! Quem sou eu? Qual meu cacife para atrair aquele ser tão interessante?”
      Sim. O relacionamento de Brás Cubas com Marcela era realmente turbulento: havia as delícias e havia os amargores. Com relação ao cacife, Brás Cubas usava das prerrogativas de filho de pai abastado para conseguir o dinheiro de que precisava e conquistar Marcela.

3 – Além da concorrência, da inexperiência, do medo da rejeição, da timidez, o jovem que ainda não trabalha enfrenta uma outra limitação, em seus relacionamentos, que é vivida pela personagem Brás Cubas:
a)   Que limitação é essa?
É o fato de não possuir, ainda, algum rendimento que lhe dê independência econômica.

b)   Em que isso pode influir num relacionamento amoroso?
Haverá limitação de passeios, cinema, teatro, restaurantes e outros programas que acarretem despesa.

c)   No caso de Brás Cubas, como esse empecilho foi vencido? Esse mesmo artifício poderia ser utilizado nos dias de hoje?
Brás Cubas pediu empréstimos na praça, provavelmente em nome de seu pai. Hoje tudo seria diferente: é preciso dar garantias legais ou fiadores e ser maior de idade para se conseguir um empréstimo.

4 – Se os problemas vividos pelos adolescentes da atualidade, diante de suas primeiras experiências amorosas, são os mesmos vividos por Brás Cubas, no século XIX, o que é possível concluir?
      É possível concluir que os jovens costumam enfrentar as mesmas dificuldades, não importando a época em que vivam, principalmente no que se refere à vida afetiva. A timidez e a insegurança são características da adolescência de todos os tempos.

5 – Para fechar seu texto, o autor do artigo cita Drummond, segundo o qual “amar se aprende amando” e dá duas notícias: uma boa e uma ruim. Comente a notícia ruim.
      A notícia ruim não é, afinal, tão ruim assim: de fato, o aprendizado do amor recomeça a cada novo relacionamento. Como o desenrolar de um caso amoroso é praticamente imprevisível, só se pode aprender enquanto ele estiver em curso. Talvez esteja nesse eterno aprender a graça do jogo.

6 – Após a leitura do texto Apaixonar-se é bom, mas é estressante, você reconsideraria os atos de Brás Cubas? Por quê?
      Sim. Ele estava na fase de auto afirmação, de querer manter o objetivo de sua paixão a qualquer preço.


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