domingo, 23 de julho de 2017

POESIA : IMPORTÂNCIA DA ESCOVA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

POESIA: IMPORTÂNCIA DA ESCOVA
                 Carlos Drummond de Andrade

Gente grande não sai à rua,
Menino não sai à rua
Sem escovar bem a roupa.
Ninguém fora se escandalize
Descobrindo farrapo vil
Em nossa calça ou paletó.

Questão de honra, de brasão.
Ninguém sussure:
A família está decadente?
A escova perdeu os pelos?
A fortuna do Coronel
Não dá pra comprar escova?

Toda invisível poeirinha
Ameaça-nos a reputação.
Por isso a mãe, sábia, serena,
Sabendo que sempre esqueço
Ou mesmo escondo, impaciente,
Esse objeto sem fascínio,
Me inspeciona, me declara
Mal preparado para o encontro
Com o olho crítico da cidade.
E firme, religiosamente,
Vai-me passando, repassando
Nos ombros, nas costas, no peito, nas pernas,
Na alma talvez (bem que precisava)
A escova purificadora.

               ANDRADE, Carlos Drummond de. Esquecer para lembrar:
          Boitempo III. 2. ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1980. p. 36.

1 – O poema nos conta alguns fatos a partir do ponto de vista de um “eu” que pode ser detectado nas terminações verbais (esqueço, escondo) e no pronome me. Como é esse “eu” que narra os fatos?
     O “eu lírico” é um garoto de família tradicional que olha ironicamente para as convenções sociais que o cercam.

2 – Como você interpreta a expressão “o encontro com o olho crítico da cidade” (terceira estrofe)?
     Essa expressão se refere às relações do grupo social com os seus próprios padrões culturais, exigidos de cada um de seus membros.

3 – “A comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos, pelo qual aprendeu a ser ‘membro’ de sua sociedade...” Relacione essa afirmação com a situação apresentada em “Importância da escova”.
     O texto mostra uma experiência de aquisição cultural por meio do cotidiano comunicativo, Lapidarmente, Drummond nos mostra como a sociedade age sobre seus membros, impondo-lhes padrões de comportamento.

4 – A ironia consiste em empregar palavras ou expressões de tal forma que seu significado acabe se invertendo, criando humor ou sarcasmo. Isso ocorre, por exemplo, quando se parece dar muita importância a coisas que têm pouca. Releia cuidadosamente o poema e aponte passagens em que se pode notar um tom irônico.
     São várias as passagens que o aluno pode apontar; pode-se afirmar que praticamente toda a adjetivação do texto é altamente irônica: farrapo vil, invisível poeirinha, mãe sábia, serena, escova purificadora. Além disso, podem ser apontadas expressões como: escandalize, questão de honra, ninguém sussurre, a escova perdeu os pelos? Ameaça-nos a reputação e outras.

5 – A escova é, segundo o texto, “um objeto sem fascínio”. Como você denominaria:
a)   A calça?
b)   A chave?
c)   A garrafa?
d)   A mesa?
e)   A cadeira?
Resposta pessoal do aluno.


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