segunda-feira, 17 de abril de 2017

CRÔNICA: A NOVA PROFESSORA- ELIAS JOSÉ - COM GABARITO

   CRÔNICA: A NOVA PROFESSORA
                  Elias José

          Dona Celinha chegou, magra e pequenina, dizendo oi, sorrindo, dando bom-dia. Quis saber o nome de todos, onde moravam, do que gostavam ou não na vida e na escola, quais eram as dificuldades. Rodrigo só falou o seu nome. Não quis continuar, e dona Celinha disse que não tinha importância, outro dia ele falaria. Chamou quem ficou rindo de bobo-alegre.
          Fim das apresentações, ela contou coisas engraçadas de sua vida. Disse que, no ano anterior, tinha completado os seus estudos. Era professora por vocação e estava doidinha para ensinar meninos inteligentes como eles, com vontade de aprender. Rodrigo ficou pensando que não era nem inteligente nem estava mais doidinho para aprender. Ela falou da beleza que era saber ler, viajar com os livros, suas personagens e histórias encantadas. O gostoso que era sair por aí descobrindo palavras em tudo que há: televisão, cartazes, livros, bilhetes, cartas e até feia nos muros. A turma foi rindo com ela, gostando dela. Rodrigo ficava na moita, olhando tudo com desconfiança.
          --- Agora já falamos de nós, não é? Vou mostrar uma caixa mágica que trouxe pra vocês.
          Decepcionou-se quem esperava doces, pipas ou pombos em cartola de mágico de circo. Ela foi tirando da caixa vários livrinhos de histórias. Mostrava as capas, falava um pouco de cada um, deixando a classe curiosa. Disse que eram fininhos, mas lindos. Uma verdadeira curtição! Ia ler um por dia. Quando a turma estivesse lendo sozinha, traria outros. Quando perguntou quem gostava de historinhas, até Rodrigo, envergonhado, levantou o braço.
          E dona Celinha escolheu um dos livrinhos e leu gostoso. Parecia mesmo uma viagem. Os seus olhos vivos corriam toda a sala. A voz engrossava ou afinava de acordo com a personagem. Soltava até barulhos de bichos. Os braços esticavam e encolhiam, as mãos se agitavam. Ria, espantava-se e fazia a turma gargalhar. Quando acabou, todo mundo perdeu a vergonha inicial e pediu mais histórias.
          A sala toda achava que dona Celinha já não era tão pequena e magrinha.
          Dona Celinha pôs no quadro a palavra MARAVILHAS. Assim mesmo, com letras grandes e no plural. E foram achando palavras e palavras. Nomes de homens, mulheres, coisas e lugares. Encheram o quadro de palavras. Dona Celinha dizia que aqueles nomes todos, espalhados para cima, para baixo, para o lado, formavam um mapa poético. Então inventou um poema com as palavras do tal mapa, usando outras só para ligação. Cada aluno quis fazer o seu poema. E foi um tal de poemar por muito e muito tempo, escrevendo, mostrando, lendo e ilustrando.
          Em outra aula, dona Celinha falou que as palavras tinham cores. Eram azuis, amarelas, brancas ou cinzentas. Deu exemplo com a palavra amarelo, que, para ela, era igual inteligência, ouro, brilho, calor, simpatia, sucesso e tantas coisas mais. A turma só foi achando o que era vermelho, rosa, verde, cinza e azul no mundo. Daí passaram para as palavras azedas e misturaram jiló com limão, prova com raiva de pai. E as palavras ficaram amargas, doces, duras, finas, frias, quentes, sólidas e líquidas. Ficaram alegres e tristes, novas e velhas, boas e más.
          Com o tempo, poemas cresceram com novos versos. Histórias mudaram de fim. Personagem de dois ou três livros se misturaram. As personagens boas viraram más. Os velhos viraram criança e as crianças envelheceram. A sala virou teatro, floresta, país muito frio ou muito quente.
          Logo nas primeiras invencionices, dona Celinha marcou uma sexta para todo mundo contar uma história vivida ou escutada. História engraçada, que não saísse de livros.

       JOSÉ, Elias. Uma escola assim eu quero pra mim. São Paulo: FTD, 1992.

1 – Explique o significado das frases:
a)     “Era professora por vocação e estava doidinha para ensinar” (...)
Dona Celinha se tornou professora por amor à profissão, gostava de lecionar.

b)    “Rodrigo ficava na moita, olhando tudo com desconfiança”.
Rodrigo não participava das atividades, mantinha-se distante, observando a professora com cuidado.

2 – Como D. Celinha despertou o interesse da classe pela leitura?
       Ela levou vários livros fininhos para a sala e cada dia lia um deles, de forma muito expressiva, fazendo gestos e mudando a voz, para encarnar melhor os personagens. Logo, os alunos começaram a querer ler sozinhos, atraídos pelas histórias.

3 – O que era interessante na maneira de Dona Celinha ensinar?
       Dona Celinha era uma professora muito criativa, inventava atividades divertidas, que mais pareciam brincadeiras: assim, para ensinar, envolvia com facilidade os alunos.

4 – O que mais agradou aos alunos na nova professora?
       Aos poucos, eles iam aprendendo com ela várias palavras e podiam ler inclusive histórias, o que mais gostavam.

5 – Releia as seguintes frases do texto:
      “Dona Celinha chegou, magra e pequenina (...)”
      “A sala toda achava que dona Celinha já não era tão pequena e magrinha (...)”
       Com o tempo a turma já não achava dona Celinha uma pessoa tão magra e pequenina. Por quê?
       No início, os alunos não confiaram nela, em sua competência; mas mudaram de ideia com a convivência e viram que, apesar de sua aparência frágil, a professora sabia ensinar e era segura.


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