sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

TEXTO: O LEÃO - COM GABARITO

TEXTO:  O LEÃO

Texto para as questões 1 a 3.

             A menina conduz-me diante do leão, esquecido por um circo de passagem. Não está preso, velho e doente, em gradil de ferro. Fui solto no gramado e a tela fina de arame é escarmento ao rei dos animais. Não mais que um caco de leão: as pernas reumáticas, a juba emaranhada e sem brilho. Os olhos globulosos fecham-se cansados, sobre o focinho contei nove ou dez moscas, que ele não tinha ânimo de espantar. Das grandes narinas   escorriam gotas e   pensei, por um momento, que fossem lágrimas.
            Observei em volta: somos todos adultos, sem contar a menina. Apenas para nós o leão  conserva o seu antigo prestígio - as crianças estão em redor dos macaquinhos. Um dos presentes explica que o leão tem as pernas entrevadas, a vida inteira na minúscula jaula.  Derreado, não pode sustentar-se em pé. Chega-se um piá e, desafiando com olhar selvagem o leão, atira-lhe um punhado de cascas de amendoim. O rei sopra pelas narinas, ainda é um leão: faz estremecer as gramas a seus pés. Um de nós protesta que deviam servir-lhe a carne em pedacinhos.
-           Ele não tem dente?
-           Tem sim, não vê? Não tem é força para morder.
Continua o moleque a jogar amendoim na cara devastada do leão. Ele nos olha e um brilho de compreensão nos faz baixar a cabeça: é conhecida a amarga derrota. Está velho, artrítico, não se aguenta das pernas, mas é um leão. De repente, sacudindo a juba, põe-se a mastigar capim. Ora, leão come verde! Lança-lhe o guri uma pedra: acertou no olho lacrimoso e doeu.  O leão abriu a bocarra de dentes amarelos, não era um bocejo.
            Entre caretas de dor, elevou-se aos poucos nas pernas tortas. Sem sair do lugar, ficou de pé. Escancarou penosamente os beiços moles e negros, ouviu-se a rouca buzina do “Ford antigo.”  Por um instante o rugido manteve suspensos os macaquinhos e fez bater mais depressa o coração da menina. O leão soltou seis ou sete urros. Exausto, deixou-se cair de lado e fechou os olhos para sempre.

QUESTÃO 01.        I.   Embora não seja um texto predominantemente descritivo, ocorre descrição, visto que o autor representa a personagem principal através de aspectos que a individualizam.
              II.  Por ressaltar unicamente as condições físicas da personagem, predomina a descrição objetiva no texto, com linguagem denotativa.
              III. Por ser um texto predominantemente narrativo, as demais formas - descrição e dissertação -inexistem.

        Inferimos que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s):

        a) Todas
        b) Apenas a I
        c) Apenas a II
        d) Apenas a III
        e) Nenhuma das afirmações.

QUESTÃO  02.
                        I.   Fato principal: a morte do leão. Causas principais: o circo, que o abandonou, e a criança, que o acertou com uma pedra.
               II.  A decadência física do leão, assunto predominante do texto, denota animalização do ser humano.
               III. A velhice do leão, assunto predominante do texto, conota marginalização, maus tratos e decadência física dos animais.

        Inferimos que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s):

        a) Todas
        b) Apenas a I
        c) Apenas a II
        d) Apenas a III
        e) Nenhuma das afirmações.


QUESTÃO 03. 
                I.   Conotativamente, o leão chora; denotativamente, o menino agride.
               II.  A decadência do leão é tanta, que nada faz lembrar a sua antiga reputação. Nem mesmo os adultos o reconhecem mais.
               III. Metaforicamente, o leão, que não mais produz e não mais trabalha, pode representar a marginalização, abandono e agressão a que são submetidos os idosos.
     
      Inferimos que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s):
      a) Todas
      b) Apenas a I
      c) Apenas a II
      d) Apenas a III
      e) Nenhuma das afirmações.





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